sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Genoma do Homo neanderthalensis é reconstituído
A ciência antropológica abriu uma nova avenida de conhecimento a respeito da evolução do homem.
Antropólogos-biólogos do Instituto Max-Planck de Antropologia Evolutiva acabaram de reconstituir o genoma do Homo neanderthalensis a partir de material genético obtido de um osso encontrado há alguns anos na Croácia.
O Homo neanderthalensis era visto como uma variação do genêro Homo, diferente do Homo sapiens. Mas alguns tinham dúvidas e achavam que talvez ele fosse uma variação da nossa espécie. Isto por dois motivos: primeiro porque eles foram contemporâneos durante muitos anos, isto é, desde que se tem notícias de que a espécie Homo sapiens apareceu há quase 200.000 anos. Sabia-se que os Neanderthalensis estiveram pela Terra há mais tempo e tenham sobrevivido até cerca de 30.000 anos atrás. Segundo porque as evidências de ossatura indicavam que, embora bem mais robustos que o Homo sapiens, o Homo neanderthalensis parecia ter todas as condições humanas, como enterrar os mortos, por exemplo. Talvez até condições de linguagem desenvolvida.
A reconstrução do genoma do Homo neanderthalensis a partir do DNA encontrado na mitocôndria da célula indica que esta espécie hominídea era realmente distinta do Homo sapiens e que o ancestral comum a ambos teria existido há cerca de 660.000 anos. Como o Homo sapiens só aparece, pelo que se sabe até agora, só por volta de 200.000 anos atrás, então haveria uma espécie intermediária entre esse ancestral comum e o Homo sapiens. Talvez tenha sido o Homo heidelberghensis, com o qual, portanto, o Homo neanderthalensis teria mais coisas em comum.
Bem, isto são hipóteses e teorias da Antropologia Biológica. Com novas descobertas sempre surgem mudanças no quadro. Entretanto, a reconstrução do genoma é um passo importante e confirmador de teorias anteriores. Talvez as mudanças não venham a alterar tanto essa teoria atual.
De todo modo, dado o fato de que a reconstrução da face do Homo neanderthalensis se assemelha a essas imagens postadas, como será que sua nova cara vai ficar? Talvez mais bonitinha que estas. Aliás, acho que já vi essas figuras andando por aí.
Reconstruir o genoma de um ser significa, em tese, que um dia ele pode ser clonado. Eis uma aporia científica a ser discutida nos próximos anos.
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Grupo seqüencia genoma dos neandertais
Evidências genéticas reforçam teorias de que eles formavam espécie distinta, com população pequena
O Estado de São Paulo
Cientistas europeus e americanos apresentam hoje o primeiro genoma de uma outra espécie do gênero humano: o Homo neanderthalensis, ou neandertal, um parente extinto do Homo sapiens - mais baixinho e troncudo - que viveu entre 200 mil e 30 mil anos atrás.
As evidências genéticas reforçam as teorias do modelo fóssil de que os neandertais formavam uma espécie distinta, que tinham uma população relativamente pequena e provavelmente não se miscigenaram com o Homo sapiens, apesar de terem convivido com seres humanos modernos por milhares de anos, principalmente na Europa.
O DNA seqüenciado não foi o do genoma nuclear, contido no núcleo das células, mas o do genoma mitocondrial, de dentro das mitocôndrias, as organelas produtoras de energia celular.
O material foi colhido de um fragmento ósseo de 5 centímetros, descoberto em 1980 na Caverna de Vindija, na Croácia. Os pesquisadores não sabem de que parte do esqueleto ele veio (talvez um fêmur), mas sabem que o neandertal que o "usava" morreu 38 mil anos atrás, "pouco" antes da espécie desaparecer por completo.
O osso foi perfurado com uma broca e o pó (0,3 grama), usado como fonte de material genético. Várias amostras de DNA neandertalense já foram seqüenciadas no passado, mas nunca na forma de um genoma inteiro. "Finalmente temos uma seqüência completa", afirma Ed Green, do Instituto Max-Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha.
O genoma mitocondrial é só uma amostra do DNA de um organismo, mas traz informações importantes - e práticas - sobre a evolução. Foi com base nele que cientistas desenvolveram o conceito da "Eva mitocondrial", segundo o qual todos os seres humanos modernos descendem de uma mesma mãe que viveu na África, 150 mil anos atrás.
O diferencial do DNA mitocondrial é que ele é passado só de mãe para filho - porque o espermatozóide não contribui com mitocôndrias para o embrião, apenas o óvulo. Além disso, o genoma mitocondrial é menor, mais abundante e carrega menos genes do que o DNA nuclear (13, em vez de 20 mil), o que torna o estudo de variações individuais e populacionais muito mais simples.
DIFERENÇAS
A seqüência produzida pelos cientistas tem 16.565 nucleotídeos (bases A, T, C e G), número quase idêntico ao do genoma mitocondrial humano, que tem 16.658. O mais interessante, porém, está nas diferenças.
Assumindo que as duas espécies evoluíram de um ancestral comum, o acúmulo de variações genéticas funciona como um "relógio molecular", que mostra há quanto tempo elas se separaram. Os cientistas encontraram 206 diferenças entre o DNA mitocondrial do neandertal e do homem. Isso indica que o último ancestral comum das duas espécies viveu 660 mil anos atrás. "O que significa que as primeiras populações de humanos e neandertais se separaram algum tempo depois disso", explica Green.
Hoje, o relógio molecular é calibrado com base nas diferenças entre homem e chimpanzé - espécies separadas há 6 milhões de anos. "O genoma do neandertal vai ajudar bastante a acertar melhor esse relógio", diz o pesquisador Sandro Bonatto, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que usa a genética para estudar a ocupação das Américas. "Vamos aproveitar esses dados, certamente."
Segundo o estudo, a diferença entre o DNA mitocondrial das duas espécies é bem maior do que a variação natural que pode ser encontrada entre dois Homo sapiens, o que confirma o Homo neanderthalensis como uma espécie distinta. Também não há evidências de que tenha havido miscigenação significativa entre as duas populações.
A extinção dos neandertais é tema polêmico. Uma das hipóteses é que eles tenham sido exterminados pela competição com o homem moderno. Um acúmulo de pequenas mutações no DNA mitocondrial indica que a população do Homo neanderthalensis era pequena, talvez mantida em xeque por sucessivas glaciações no Hemisfério Norte. O trabalho foi publicado na revista Cell.
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