segunda-feira, 10 de março de 2008

Enawene-Nawé são ameaçados por fazendeiros em pescaria coletiva

O clima anti-indígena de grande perigo de vida está de volta em Juína. Os índios Enawene-Nawe estão sendo ameaçados de serem atacados por fazendeiros e seus capangas por usarem o rio Preto como local de pescaria.

Tudo começou há alguns meses quando a Funai resolveu criar um grupo de trabalho para fazer o reconhecimento das terras que são banhadas pelo rio Preto, rio de grande importância para a cultura de pescadores dos Enawene-Nawe. Sem levar em consideração o clima local, um grupo do Greenpeace e da OPAN resolveu filmar o clima anti-indígena da região. Foram violentamente rechaçados pelo prefeito de Juína e pelos fazendeiros que iriam se sentir prejudicados pela demarcação daquela terra.

Os índios Enawene-Nawe voltaram recentemente ao rio Preto para fazer sua pescaria sazonal, fazendo diques para pegar grande quantidade de peixes, moqueá-la e depois trazê-la para a aldeia, onde o peixe é consumido de vários modos, por um longo tempo. A cultura pesqueira dos Enawene-Nawé é das mais interessantes e importantes na etnografia brasileira e no panorama indígena mundial. Os índios querem tão-somente ter acesso àquele rio para fazer suas pescarias anuais.

A demarcação dessa terra seria possível se abarcasse um trecho razoável do rio, da sua foz no Juruena até suas cabeceiras, que ficam na Terra Indígena já demarcada e homologada.

Eis o que deveria ter sido feito. Agora o ambiente ficou tão tenso, com a intervenção da polícia federal e do ministério público, além do governo do estado do Mato Grosso, que muita confusão vai reinar por lá. E pouca solução haverá de vir.

A situação dos Enawene-Nawe piorou com essa falta de sensibilidade política por parte dos que mandam na Funai atualmente. Refazer as condições em que eles viviam e buscavam o relacionamento com a cidade de Juína e Brasnorte vai demorar. Os Enawene-Nawe sofrem pela arrogância e amadorismo do indigenismo neoliberal.

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Fazendeiros armados ameaçam Enawene-Nawe na região do Rio Preto

No dia 06 de março(quinta-feira), indígenas da etnia Enawene Nawe que realizavam sua pescaria ritual, na região do rio Preto, em Juína foi surpreendido por um grupo formado por proprietários locais armados e acompanhados pela Polícia Militar de Juína, que chegou ao acampamento de pesca com armas em punho. Diante dessa cena, houve grande tumulto e as crianças que acompanhavam seus pais correram para a mata ou se atiraram no rio. O grupo de adultos que ficou na margem do rio recebeu vários insultos verbais e foi informado de que em breve os produtores e a polícia voltariam ao local e se encontrassem os indígenas ali fariam usariam a força para expulsá-los se fosse necessário.

A área em questão é pleiteada pelos indígenas por se tratar de território tradicional de pescaria. Apesar de estar fora da área indígena, nos últimos anos os Enawene vinham utilizando a região para pescaria sem maiores problemas. Construíam sua barragem, realizam sua pescaria e ao fim do período desobstruíam o rio. No entanto, a criação de um Grupo de Trabalho (GT) da FUNAI para revisão da área Enawene deixou os proprietários da região em clima beligerante.

Recentemente os fazendeiros conseguiram uma liminar da justiça que proíbe a presença dos indígenas naquela região com a finalidade de realizarem sua pescaria ritual. Os Enawene solicitaram apoio à FUNAI e ao MPF em carta onde explicaram que a pescaria é uma obrigação com os espíritos (Yakariti) para quem eles celebram o ritual Yankwa, sob a pena de sofrerem punições na forma de mortes e doenças. O Ministério Público Federal recorreu a liminar e no momento o processo está com um Subprocurador do Tribunal Regional Federal, em Brasília.

A FUNAI de Juína já tomou as medidas necessárias, solicitando o apoio da Polícia Federal, mesmo assim o clima ainda é muito tenso na região e a possibilidade de um confronto que pode ter conseqüências trágicas é iminente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Mercio,
Realmente essa situação infelizmente tende a piorar, desde o fato ocorrido com o Greenpeace, as autoridades competentes meio que abafaram, ou não deram a devida importância ao caso, essa situação está na cara de todos á algum tempo, quando estive trabalhando por aqueles lados, mais específicamente no rio pardo, tive a oportunidade de ver de perto o descaso e sentimento preconceituoso dos cidadãos da cidade de Juina, para com os indígenas Enaweme, acredito eu que o estado tem por obrigação transparecer as questões ali pertinentes, pois a sociedade envolvente se mantêm na ignorância dos reais fatos que ocorrem,tendo assim a opinião aberta para que minoria dessa referida sociedade(fazendeiros,Politicos), incutam o que lhes é favorável, deixando assim os indígenas, ora, que são pessoas tão generosas e bondosas que chegam até a ser a certo ponto inocentes a mercê de inverdades,em relação as terras em questão.
Do ocorrido é uma pena, pois sabemos que todas as formas de violência parte do princípio da intimidação, e dai a tendência e se agravar, cabe as autoridades, e torço para isso, venham se colocar de forma que pelo menos protejam e assegurem os direitos dos Enawene-Nawe.

Abraços.
Hugo Meireles Heringer

 
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