quinta-feira, 19 de abril de 2007

Dia do Índio -- 2007

Hoje se comemora no Brasil e na América Latina o Dia do Índio. Essa data foi consagrada em 1941, num Congresso de Indigenistas em Patzcuáro, no México, e oficializada no Brasil em 1944, por influência do Marechal Rondon. Naquele ano foi inaugurada uma grande estátua do índio Moctezuma numa das praças mais interessantes do Rio de Janeiro.

Muita gente, entre antropólogos e congêneres, é contra essa comemoração hoje em dia. Acha que foi criada só para tentar limpar uma cicatriz do processo histórico de formação das nações latino-americanas. Sempre vêem as coisas pelo lado negativo. Na verdade, a comemoração do Dia do Índio é feita em todas as escolas brasileiras, principalmente as de primeiro grau, e faz com que as nossas crianças reflitam um pouco sobre o que foi o nosso passado, o que é o presente e o que pode ser o futuro, em relação aos povos indígenas. Mais tarde essas crianças viram adultos e mantêm ou não seu sentimento de respeito pelos povos indígenas.

Muitas cidades, Brasil afora, convidam grupos indígenas para apresentar danças ou contar histórias de suas vidas em escolas e centros culturais, e o fazem com o sentimento positivo de buscar um bom relacionamento com as sociedades indígenas.

Na minha presidência na Funai comemoramos o Dia do Índio de modos diferentes. Em 2004, fizemos uma homenagem à luta do povo Xavante para a retomada da Terra Indígena Maraiwatsede, de onde eles haviam sido retirados em 1969, por padres salesianos, a pedido da Empresa Ometto, que havia grilado essas terras. A homenagem teve um quê especial pela presença de Seu Dario, um brasileiro simples que trabalhava como capataz de uma fazenda desse grupo e que, no convívio com os Xavante, aprendera sua língua e fotografara momentos especiais de sua vida. Assim fizemos uma exposição de fotos tiradas entre 1967 e 1969, com os últimos Xavante ainda vivendo uma vida pré-contato. O grande cacique Damião, que hoje lidera a comunidade de Maraiwatsede, numa aldeia de mais de 600 pessoas, era então um jovem adolescente. Nos dias seguintes, ele e seus liderados se apresentaram a diversas autoridades do Estado, que, eventualmente, ajudaram-no a permitir entrar na terra indígena legalmente. Foi a maior vitória de recuperação territorial do Governo Lula, creio eu, ainda que a maior parte dessa terra esteja ocupada por alguns grileiros e pequenos posseiros. Mas os Xavante deram uma demonstração cabal de determinação e inteligência ao recuperar esse território. Que outros os sigam com igual desenvoltura.

No Dia do Índio de 2005 fizemos uma homenagem aos Sábios Indígenas, grandes lideranças de povos indígenas de todas as partes do Brasil, do alto Rio Negro ao Rio Grande do Sul. Foi memorável a recepção que o presidente Lula lhes prestou, junto com o Ministro Márcio Thomaz Bastos. Raoni dançou sua dança de guerra para a alegria e satisfação de todos presentes.

Em 2006 o Dia do Índio foi comemorado na conclusão da Conferência Nacional dos Povos Indígenas, com a presença do ministros Valdir Pires, Marina Silva, Armando Félix e do secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, representando o Ministro Márcio Thomaz Bastos. Ali havia mais de 800 lideranças, entre jovens e experimentados indígenas, que tinham acabado de produzir o documento final da Conferência, o qual foi depois publicado pela Funai.

Sempre há os que acham que não há nada a comemorar. Ouvi esse discurso tantas vezes que me cansei. Reclamam que as terras não foram demarcadas, que os índios não são ouvidos, que o presidente Lula os vê como problema. O fato é que, nesses primeiros quatro anos, o presidente Lula homologou 66 terras indígenas, inclusive a mais difícil de todas, Raposa Serra do Sol, que todos os presidentes da Funai que me antecederam colocavam como prioridade, mas que não convenciam o presidente incumbente à ação. Já o ministro Márcio Thomaz Bastos decretou a demarcação de 32 novas terras indígenas, e eu, como presidente, assinei a delimitação de 51 terras indígenas. São novas terras que estão em processo de demarcação e que irião exigir muita dedicação e capacidade de trabalho para serem concluídas. Acham pouco, como se tudo fosse fácil, mas nessa marcha o Brasil vai demonstrando seu respeito aos índios, sobrepujando barreiras contrárias que quase nenhum outro país do mundo consegue. A demarcação da maioria das novas terras requer a retirada de moradores que lá estão há muitos anos, e que só o Brasil, por um destino próprio, consegue realizar.

Muito ainda há que se fazer pelos povos indígenas no Brasil. Mas não é pelas vozes histéricas das cassandras que a história se move, e sim pelo trabalho sério e determinado, pela estratégia de confrontação correta, pela capacidade de esperar para ver o melhor tempo de ação. Os índios, como guerreiros que são, sabem disso.

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