Os índios Ikpeng, que vivem na Terra Indígena Xingu, e cujas terras tradicionais estão em processo de demarcação, prenderam uma equipe de oito pesquisadores, incluindo dois antropólogos, um biólogo, um ecologista e um engenheiro florestal (entre eles a distinta antropóloga Edir Pina de Barros) e quatro funcionários da Funai, que estavam no Posto de Vigilância Pavuru fazendo estudos para convencer os índios a aceitarem a construção de uma Pequena Central Hidrelétrica que está sendo construída no rio Culuene, a 98 km a montante da terra indígena e a pelo menos 200 km desse posto de vigilância.
Os Ikpeng à frente desse ato são jovens e dizem que só soltam os reféns com a presença de autoridades em sua aldeia, onde querem convencê-los a serem a favor da desmontagem da PCH referida.
A matéria abaixo, da Folha Online, trata desse assunto. Outros jornais repercutiram essa situação de maneiras semelhantes. É possível que a conversa venha a se dar na sede da Funai, em Brasília.
O fato é que os índios xinguanos estão possessos em relação a essa hidrelétrica. Ouvem muitas coisas contra ela por parte da Ong ACT e do ISA (que recebem dinheiro da USAID) e que promovem campanhas contra. Ouvem que o governo planeja fazer muitas hidrelétricas nos rios que formam o rio Xingu.
Assim, não podem deixar de ficar nervosos. Os mais velhos, mais conhecedores do seu potencial, e que não querem provar nada mais do que já são para seus povos, têm uma visão diferente. Querem mais diálogo, querem saber mais para terem a certeza de que não serão prejudicados em seus direitos e na sua forma de viver. Os mais jovens, com discurso radical aprendido pelas Ongs, querem mostrar força de guerreiro e querem ação. Daí prender a tal equipe de estudos, bem como o próprio chefe da Administração do Parque do Xingu, o índio Tamalui Kalapalo. É situação constrangedora e potencial de novos conflitos.
Veja também matéria no Diário de Cuiabá
_______________________________________________
Índios fazem pesquisadores e funcionários da Funai reféns em MT
RODRIGO VARGAS
da Agência Folha, em Cuiabá
Quatro funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio) e oito pesquisadores são mantidos reféns desde a tarde de anteontem por índios da etnia ikpeng, no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso.
Contrários à instalação de uma usina hidrelétrica em um afluente do rio Xingu, os índios exigem no local a presença do presidente do Funai, Márcio Meira, e de um representante da Paranatinga Energia, empresa responsável pela obra.
Os pesquisadores --antropólogos e biólogos, majoritariamente-- entraram no parque com autorização da Funai. Todos são vinculados ao Instituto Creatio, que foi contratado pela Paranatinga Energia para produzir um relatório antropológico e ambiental das 14 etnias que ocupam áreas no parque.
O levantamento, segundo nota divulgada pelo instituto, servirá para que a Funai "possa definir as compensações" decorrentes da implantação da PCH Paranatinga II, que está funcionando desde dezembro do ano passado no rio Culuene, a cerca de 250 quilômetros de distância do parque.
"Os pesquisadores foram devidamente credenciados pela Funai para entrar no Xingu", diz a nota. A Funai, continua o texto, "inclusive designou sua própria equipe, formada pelos quatro servidores funcionários, para acompanhá-los e dar suporte técnico e facilitar na relação com os povos xinguanos".
Os funcionários da Funai que foram detidos também são indígenas. Um deles é o administrador-regional do parque do Xingu, Tamalui Meinako.
No final da tarde de ontem, a assessoria de imprensa da Funai informou que o presidente do órgão conversou com os líderes da etnia e os convidou a discutir o assunto em uma reunião marcada para hoje, em Brasília. A Funai prometeu mandar um avião para buscar os representantes da etnia.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário