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Com a ajuda da Funai e de Ongs, estão buscando unir os esforços de seus patrícios no Peru para dar um basta no caos que está acontecendo naquele país com a presença de madeireiros nas terras indígenas. Inclusive com graves repercussões no Brasil. Já há alguns anos, madeireiros peruanos chegaram a invadir parte do território dos Ashaninka do rio Amônia, derrubar madeira e até mudar marcos de fronteira.
Quando era presidente da Funai fizemos reuniões com os ministérios do Meio Ambiente, da Defesa e das Relações Exteriores para estabelecer uma estratégia para combater essas invasões. De fato, as invasões pararam, após uma missão militar na região. Mas a ameaça continua. Além do mais, povos indígenas autônomos estão entrando no Brasil por causa da pressão dos madeireiros peruanos, e, às vezes, eles não sabem que é amigo e quem é inimigo.
Meu amigo, o indigenista José Carlos Meireles levou uma flechada no rosto, há 3 anos atrás, devido à chegada de um grupo de índios Piro ou Amahuaca. Felizmente conseguimos tirá-lo da Frente de Atração que ele comanda e ele logo se restabeleceu. Hoje continua lá, com "os parentes", como costuma dizer.
Ver mapa para localizar a posição do Acre e da fronteira com o Peru, com as terras indígenas em destaque. Cortesia jornal eletrônico Kaxiana, Rio Branco, Acre.
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Vera Olinda (*)
Kaxiana Notícias, Acre
O povo Ashaninka do Peru e do Brasil estará reunido entre os dias 24 a 28 de fevereiro na aldeia Sawawo, localizada no departamento de Ucayali (Peru), na fronteira com o estado do Acre, para um evento chamado de Encontro na Fronteira Brasil-Peru Comunidades Indígenas: Terra, Limites Fronteiriços, Convênios e Projetos.
O objetivo é discutir o impasse criado pela exploração madeireira na fronteira entre os dois países, os seus impactos socioambientais nas terras e comunidades indígenas e nos territórios dos índios isolados, como também discutir soluções de desenvolvimento não madeireiro.
Este encontro é organizado pela Apiwtxa com o apoio da CPI/Acre - Comissão Pró-Índio do Acre, do CTI - Centro de Trabalho Indigenista e da RCA - Rede de Cooperação Alternativa. Estarão presentes também organizações indígenas e indigenistas de ambos os países e contará com a participação do Governo Brasileiro, através da Coordenação Geral de Índios Isolados da Funai – Fundação Nacional do Índio.
A política ambiental do Governo Peruano é o que está motivando a realização do encontro. Essa política, através das concessões florestais, tem ameaçado a integridade do território de índios isolados que, fugindo dos desmatamentos, têm se deslocado em direção às Terras Indígenas do estado do Acre situadas na região de fronteira. A presença cada vez mais freqüente de grupos isolados nestas TIs é vista com apreensão pelos povos indígenas do lado brasileiro, cujos territórios delimitam a fronteira Brasil-Peru.
A invasão de madeireiros peruanos se intensificou a partir de 2000 com o regime de concessão florestal peruano e a promulgação da Lei Florestal no país. Desde essa época, foram abertos dois concursos de concessão de lotes permitindo aos madeireiros instalar empresas na região. O governo peruano, no entanto, não tem se mostrado capaz de fiscalizar a atividade madeireira dentro das concessões florestais: o Instituto Nacional de Recursos Naturales - INRENA (organismo do governo equivalente ao IBAMA no Brasil) não dispõe de estrutura adequada para realizar tal atividade; além disso, é notada a influência política dos madeireiros na região, seja em âmbito local ou departamental. O que se vê como resultado são quilômetros de floresta devastada e extração ilegal de madeiras nobres. Como, no lado peruano, algumas espécies de maior valor econômico já foram exploradas à exaustão, os madeireiros passaram a invadir a floresta do lado brasileiro.
Preocupadas com a situação, as lideranças indígenas e organizações da sociedade civil, brasileiras e peruanas, continuam se reunindo para discutir esses problemas, buscar soluções e exigir medidas governamentais para por fim às ações criminosas que estão destruindo os povos que habitam a região da fronteira Brasil-Peru.
Sobre os Ashaninka
A maioria dos Ashani1nka vive no Peru. Os grupos situados hoje em território brasileiro são também provenientes do Peru. Eles começaram a migrar para o Brasil pressionados pelos caucheiros peruanos no final do século XIX. Aqui os Ashaninka estão em cinco Terras Indígenas distintas e descontínuas, todas situadas na região do Alto Juruá.
1.TI Kampa do Rio Amônia, contígua ao Parque Nacional da Serra do Divisor, homologada, registrada no CRI e SPU (1992) com 87.205 hectares, no município de Mal. Thaumaturgo;
2. TI Kampa do Igarapé Primavera, homologada, registrada no CRI e SPU (2001) com 21.987 hectares, no município de Tarauacá;
3. -TI Kampa e Isolados do rio Envira, homologada e registrada no CRI e SPU (1998) com 232.795 hectares, no município de Feijó, onde habitam também grupos Amahuaka, inimigos históricos dos Ashaninka e que evitam o contato com indígenas e não-indígenas;
4. TI Kashinawa/Ashaninka do Rio Breu, homologada e registrada no CRI e SPU (2001) com 31.277 hectares, nos municípios de Marechal Thaumaturgo e Jordão;
5. TI Jaminawá/ Envira homologada e registrada no SPU (2003), nos municípios de Feijó e Santa Rosa do Purus, com 80.618 hectares; onde vivem também grupos Kulina e Jaminawa.
Os antropólogos que trabalharam com esse povo apresentam uma grande variação salientam a dificuldade de estabelecer um total populacional desse povo. No Peru os dados variam de 10 mil a mais de 50 mil indivíduos. Não obstante, todos os autores apresentam os Ashaninka como um dos maiores contingentes populacionais nativos da Amazônia peruana e mesmo da bacia amazônica em geral.
Os Ashaninka pertencem a família lingüística Aruak (ou Arawak). Eles são o principal componente do conjunto dos Aruak sub-andinos, também composto pelos Matsiguenga, Nomatsiguenga e Yanesha (ou Amuesha). Apesar de existirem diferenças, os Ashaninka apresentam uma grande homogeneidade cultural e lingüística.
(*) Representante da Comissão Pró-Índio do Acre
Elson Martins é jornalista acreano. Como repórter regional de O Estado de São Paulo, acompanhou a partir 1975 a primeira fase dos conflitos pela terra no Acre, ajudando a colocar Chico Mendes na mídia local e nacional. Foi um dos editores do jornal alternativo Varadouro, que tomou partido da luta dos seringueiros, índios e posseiros a partir de 1978. E-mail para contato: elson-martins@uol.com.br.
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