O escritor e sociólogo Paulo César de Araújo teve a bondade de escrever essa resenha do meu livro ANTROPOLOGIA (Editora Contexto, 2008), que saiu essa semana na revista DESAFIOS, nº 48, 2009, do Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas -- IPEA --, órgão do Ministério de Assuntos Estratégicos.
Modéstia à parte, não poderia deixar de publicá-la no Blog!
____________________________
“Antropologia é uma palavra iluminante” – eis como inicia seu livro o antropólogo e ex-presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, derramando, ao longo de 10 capítulos, o sentimento de que a Antropologia é alguma coisa especial no mundo do conhecimento do homem.
Mércio, que é professor de Antropologia da Universidade Federal Fluminense e autor de diversos livros sobre índios e meio ambiente, considera que, além de ser uma ciência social, na medida em que se baseia na empiria para propor hipóteses e testar teorias, a Antropologia, também, faz parte da linhagem da filosofia, na medida em que trata da cultura, da discursividade, da inefabilidade do conhecimento, da criatividade, do diálogo entre os homens e da intencionalidade da vida.
Antropologia é um livro que chama a atenção, em primeiro lugar, pela qualidade do texto que se faz compreensível tanto para estudiosos quanto para leigos. Impressiona também pela abrangência de questões sociais e filosóficas que o autor considera como matéria da Antropologia. O livro cobre temas que vão desde as conexões da reflexão antropológica com as ideias iluministas, passando pelo evolucionismo cultural, de inspiração darwiniana e marxista, reconhecendo a força da descoberta do inconsciente coletivo, a afirmação do primado da cultura sobre a natureza, até chegar aos temas atuais e pós-modernos, como a incerteza do conhecimento do Outro, a dissolução do estruturalismo, o hiper-relativismo cultural e a responsabilidade ética da Antropologia.
Por outro lado, Antropologia segue um roteiro mais ou menos tradicional do que se constitui a Antropologia como disciplina acadêmica. Cabe a essa disciplina o estudo tanto da cultura, da sociedade, do parentesco, de rituais e simbolismo, matérias tradicionais da Antropologia Social, quanto da evolução e dispersão do homem na Terra, pela Antropologia Biológica, do desenvolvimento das sociedades, pela Arqueologia, e especialmente, do estudo da variedade das línguas, suas especificidades
e sua unicidade na capacidade das sociedades e culturas pensarem por meios próprios e também por noções universais.
Na década de 80, lembro-me, e até recentemente, a Antropologia se colocava no Brasil como a encarregada de dar sentido aos temas marginais à sociedade dominante: índios, mulheres (no início do feminismo), racismo, favelas, minorias as mais diversas. A Antropologia continua a tratar desses temas, mas avançou sobre temas antes atribuídos à Sociologia e à Ciência Politica, e até à Filosofia. A influência de autores como Foucault, Deleuze e Derrida evidenciase nos textos mais escalafobéticos da Antropologia pós-moderna, especialmente aqueles que vêm do pós-modernismo praticado nos Estados Unidos e que emula alguns autores brasileiros. O livro de Mércio trata esses velhos temas não como assuntos marginais à
sociedade brasileira, e sim, em muitos casos, como questões fundantes do Brasil e da nossa nacionalidade. Essa é uma diferença essencial de atitude intelectual, ética e política em relação a outros autores.
Ao final de um livro que cobre todo o espectro da Antropologia, desde estudos de parentesco até as contribuições da Antropologia Política, Econômica, Urbana, da Religião e dos Mitos, Mércio propõe repensar a Antropologia por um novo viés teórico, que ele chama de “hiperdialético”, algo que, aparentemente, ele já vem discutindo em suas aulas na UFF e que promete desenvolver em todas as suas possibilidades em futuro próximo. Não dá para analisar o que é hiperdialético em tão curta resenha. Cabe ao leitor descobri-lo e no transcurso apreciar esse livro, digamos, também iluminante.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
mércio, parabéns pela segunda reimpressão do livro. a resenha é sincera.
falta agora nova edição de "os índios e o brasil". além daquela prometida trilogia...
abraço
Postar um comentário