quinta-feira, 10 de julho de 2008

Angola busca identidade nacional


O antropólogo angolano Américo Kwononoca anda preocupado com a construção de uma "identidade nacional" para o seu país.

Enquanto isso, é irônico, uma turma de antropólogos brasileiros acha que o Brasil não precisa ter uma identidade própria, só identidades... São os chamados antropólogos da diferença, seguidores de Deleuze.

A preocupação do colega angolano demonstra o quanto é difícil países construírem identidades nacionais diante das diversidades que abrigam. Todo país, por menor que seja, tem diversidades. Algumas são étnicas, outras históricas, outras sociais. Construir algo que agregue as diferenças, que sintetize o Um com o Múltiplo é essencial para a vida humana.

Meu apoio inequívoco ao colega angola e a todo o povo de Angola nessa luta de reconstrução de todo um país que sofre pelas desavenças étnicas internas, pelos anos de colonialismo e pelas disputas e lutas pelo poder.

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Antropólogo considera importante fomentar autoconsciência nacional

Luanda

O antropólogo Américo Kwononoca realçou hoje, quinta-feira, em Luanda, ser importante firmar-se ou fomentar a auto consciência nacional, factores imprescindíveis da identidade nacional e que tornam todos angolanos e pertencentes à mesma pátria.

Segundo o também director do Museu Nacional de Antropologia, que falava sobre o tema "Identidade Cultural Regional, Local e Nacional", no colóquio sobre Identidade Cultural, esta auto identificação dos angolanos passa pela sua inclusão nos pressupostos sociais, económicos e culturais do país e no usufruto dos direitos de cidadania.

"A promoção e a valorização das identidades culturais regionais como contribuintes da forja da identidade cultural nacional, facilitam o conhecimento das populações, incitam o respeito, a coexistência e coabitação harmoniosas", frisou.

Para Américo Kwononoca, na identidade cultural nacional é fundamental a "extirpação" da esteira cultural angolana, de todos os preconceitos, estereótipos e o etnocentrismo, para que no "ecumenismo cultural", todos se revejam como criadores, contribuintes e beneficiários.

"É aqui onde reside a necessidade de recorrer ao relativismo cultural que põe em causa e refuta os chamados modelos culturais acabados, prontos a serem impostos aos outros povos. O respeito e tolerância pela diferença cultural é que fundamentam a unidade na diversidade, sobretudo num país como o nosso, que é multi-étnico e multicultural", reforçou.

Adiantou ainda que a identidade cultural não pode se dissociar da memória colectiva, já que a criação artística e cultural constitui uma propriedade comunitária: cuja preservação consiste na sua realização periódica.

Segundo Américo Kwnonoca, a grandeza da identidade cultural nacional, numa nação em construção e rumo à sua consolidação, passa necessariamente pela promoção inclusiva das culturas locais e regionais, pelo "ensino e aprendizagem das nossas línguas".

O antropólogo defendeu ainda que a rápida e inevitável mundialização e tecnológica tende a diluir as chamadas "pequenas identidades culturais".

"As mutações nas identidades culturais podem ocorrer, pois não há necessidade impermeáveis, mas importa que elas se assentem nos valores culturais defendidos e preservados por todos os membros da sociedade", enfatizou.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa discussão sobre identidade nacional que avançava no Brasil desde 1910 foi reprimida no Brasil sob a dissonância do 'nacionalismo' advindo dos governos que assumiram em 1964.
A influência dos americanos do norte prejudicaram nossas perspectivas educacionais de brasilidade sustentados na acusação do perigo dos comunistas.
Esse retardamento não é impeditivo para sua continuidade. ´
A representatividade das centenas de povos existentes em território brasileiro, inseridos como parte da formaçao do Estado e participantes nas decisões deliberativas regionais e federais é de grande importância e fundamento humanista moderno.

 
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