Marina põe ambiente à frente da crise e contesta discurso do PAC
Agora no PV, com sonho da Presidência, ela diz que não queria mais convencer PT do que o mundo inteiro já sabe
Roldão Arruda para O Estado de São Paulo
Visita aos Xavante da Terra Indígena São Marcos, 2005
Agora no PV, com sonho da Presidência, ela diz que não queria mais convencer PT do que o mundo inteiro já sabe
Roldão Arruda para O Estado de São Paulo
(AFP)
BOGOTÁ, Colômbia — Líderes indígenas manifestaram nesta quinta-feira suspeitas relacionadas à participação de membros dos Exército no assassinato de 12 indígenas, 4 deles crianças, ocorrido na véspera, indicaram à AFP.
"Para nós, é muito suspeito que o massacre tenha sido cometido na casa e contra a família da senhora Tulia García, esposa de Gonzalo Rodríguez, indígena assassinado no dia 23 de maio por membros do Exército. Ela era testemunha da Procuradoria nesse crime", ressaltou Luis Evelis Andrade.
Andrade, presidente da Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC), lembrou que, desde que se tornou testemunha da Procuradoria contra os militares, García vinha recebendo diversas ameaças de morte.
"Não podemos dizer que foram eles (militares), mas nos parece muito suspeito e nos leva a pensar que há alguma ligação entre esse massacre e a pretensão de abafar qualquer denúncia", disse Andrade em declarações à AFP.
Homens encapuzados atacaram na quarta-feira uma reserva da etnia Awá, no sul da Colômbia, na fronteira com o Equador, em uma área que já foi cenário de dezenas de crimes atribuídos a uma guerra pelas rotas do narcotráfico.
O ataque foi cometido por "homens encapuzados que vestiam roupas militares" na reserva de Gran Rosario, departamento de Nariño, disse Andrade.
Cerca de 11.000 Awá ocupam uma faixa que inclui várias reservas entre o sul da Colômbia e o norte do Equador, que é usada por narcotraficantes para o transporte de drogas para o Oceano Pacífico, segundo registros policiais.
Segundo a ONU, a maior parte dos 64 assassinatos de indígenas ocorridos este ano seria responsabilidade da guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Os Awá denunciaram que são alvo de uma campanha de extermínio por sua decisão de se manterem neutros no conflito colombiano.
O governo do presidente Alvaro Uribe havia "repudiado e condenado" o assassinato e ofereceu recompensa de até 100 milhões de pesos (cerca de 50.000 dólares) "a quem fornecer informação que leve à captura dos autores materiais e intelectuais desse massacre".
SÃO PAULO - O Tribunal Regional Federal cassou a tutela antecipada que suspendia os estudos no Mato Grosso do Sul para identificação e demarcação de terras indígenas. Os estudos, que estão sendo realizados a pedido da Fundação Nacional do Índio, tinham sido suspensos por decisão do desembargador federal Luiz Stefanini, que havia aceitado recurso da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso do Sul (Famasul).
Com a nova decisão, os estudos podem voltar a ser feitos. A decisão foi do juiz federal convocado Ricardo China, novo relator do processo, e foi seguida pelos desembargador federal Johonsom di Salvo e pelo juiz convocado Márcio Mesquita. O desembargador Stefanini está agora na 5ª Turma.
- A Funai e o Ministério Público Federal vivem sendo acusados de não levar adiante os processos em favor dos índios. Quando há uma vontade firme de avançar na demarcação das terras vem o Judiciário e suspende os estudos. A decisão foi tomada por um único desembargador, que não consultou o Ministério Público Federal - disse o procurador Paulo Thadeu Gomes da Silva.
Segundo ele, por lei, o MPF tem a obrigação de ser ouvido, já que é o representante legal dos índios. De acordo com Thadeu, os estudos para demarcação das terras estão parados há dois anos por conta dessa briga jurídica entre a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso do Sul e a Funai.
- Agora, com essa nova decisão, que libera os estudos, esperamos que a demarcação seja feita o quanto antes. Os índios têm um processo histórico de expulsão no Mato Grosso do Sul e estão confinados na beira de estradas. Em desvantagem, eles não conseguem se reproduzir - afirmou o procurador, acrescentando que os índios se sentiram traídos pelos fazendeiros, que entraram com a ação ao mesmo tempo que negociavam uma saída para a divisão das terras.
Li com cuidado o relatório sobre a situação dos povos indígenas no Brasil de autoria de S. James Anaya, relator especial da ONU para os direitos dos povos indígenas. Ao contrário do que viram os jornais O Globo e o Estado de São Paulo, bem como a autora do texto postado no ISA, não achei o relatório tão crítico assim. Mais ou menos.
S. James Anaya esteve no Brasil por duas semanas em Agosto de 2008. Estava pegando fogo a questão de Raposa Serra do Sol e das portarias da Funai que criaram os GTs para analisar e propor a fundamentação de novas terras indígenas para os índios Guarani em Mato Grosso do Sul. Anaya esteve nessas duas regiões, ouviu os índios e muitas pessoas contrárias. Teve essa disposição e destemor. No Mato Grosso do Sul, principalmente em Dourados, ouviu em audiência muito tensa os fazendeiros que uivavam literalmente de raiva. Ouviu índios Guarani e políticos. Não sei se esteve com o governador do MS, mas se dispôs a ouvir a todos.
A convite do ISA, Anaya esteve também em São Gabriel da Cachoeira para ver o modelo de organização política dos índios do Alto rio Negro. Sua ligação com essa Ong era evidente.
Em Brasília esteve na Funai com um grupo de lideranças indígenas. Ouviu reclamações e sugestões. Falou inclusive com o ministro Tarso Genro. Esteve também com o secretário de Direitos Humanos e com o Procurador-Geral da República. Entretanto, não esteve com ministros do STF, acho porque eles não o quiseram receber e consideraram sua presença uma imposição indevida sobre eles e sobre as decisões que iriam tomar em breve. Inclusive, poucos dias depois, ao votar sobre Raposa Serra do Sol, o ministro Ayres Britto alude à Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas como uma influência desnecessária à política indigenista brasileira e a Constituição Federal. O ministro Britto considera que nossa Constituição é mais profunda e ampla em política indigenista do que a própria Declaração. Nesse sentido, a presença do relator Anaya teria contagiado negativamente o voto do ministro Britto, e esse voto, tão festejado por muitos, deu consequências ruins no prosseguimento daquela votação. Isto é, o voto de Britto provocou o voto revisionista do ministro Menezes Direito e daí as malfadadas ressalvas.
1. O relatório de Anaya não é falso nem errado de modo algum. É, entretanto, típico de relatórios de pessoas de boa vontade, porém com informações parciais de uma determinada sociedade, focando nos pontos mais óbvios, mas sem profundidade sobre os assuntos abordados. Dizer, por exemplo, que os índios são discriminados no Brasil é um óbvio ululante que se aplica ao Brasil e a qualquer outro país das Américas, da Europa, da Ásia ou da África. Agora, sugerir que, para remediar isso, se faça uma campanha nacional em prol dos índios sob a égide das Nações Unidas e das Ongs é ignorar o desassossego que tomou de conta do país desde a votação da Raposa Serra do Sol, particularmente entre militares, políticos da Amazônia e nacionalistas em geral por conta da Declaração Universal dos Direitos Indígenas e da influência das Ongs na atual política indigenista brasileira. Esta Declaração, para a elaboração da qual eu trabalhei com afinco durante o tempo que passei como presidente da Funai, é muito importante para o resgate dos povos indígenas mundo afora, mas ela só será emplacada nos países que têm populações indígenas, incluindo o Brasil, por uma metodologia mais sutil do que esta de campanhas carregadas de frases feitas e lugares-comuns. O mundo não comporta mais esse tipo de campanha, porque o mundo está saturado de marketing fácil. E o Brasil nem liga mais. Então, a sugestão, se não é despropositada, é inócua.
2. O relator Anaya reconhece que o Brasil está na dianteira do reconhecimento do direito indígena sobre suas terras e que já demarcou quase 13% do seu território como terras indígenas. A conclusão desse processo não vai ser fácil, e só os irresponsáveis é que fazem promessas à toa para os índios. Por exemplo, dizer que a Funai vai demarcar 800.000 hectares no Mato Grosso do Sul para os Guarani, retirando os fazendeiros que ocupam essas terras por um processo administrativo e em nome da Constituição, é de uma ingenuidade boba e de uma irresponsabilidade inominável. Cria expectativas para os índios e fomenta uma reação desmesurada por parte dos adversários fazendeiros e políticos. O resultado é um impasse que só os índios ficam prejudicados; os que fazem essas promessas passam batidos. Não sei se Anaya está ciente disso, mas bastaria ele se mirar no que acontece nos Estados Unidos para ver que não é fácil recuperar terras indígenas, mesmo aquelas que foram estabelecidas em tratados mas que foram usurpadas por invasores. Nenhuma tribo americana recuperou terras de tratado até hoje. Recuperar terras no Mato Grosso do Sul não poderia ser o mesmo que tirar doce de criança.
3. O relator Anaya considerou o PAC, essa série de investimentos feitos no Brasil, especialmente na Amazônia, um perigo e um desafio à situação indígena no Brasil. Tanto pelo que esse programa pode ter de destruidor de meio ambiente, quanto pelo modo que está sendo realizado. Reclamou que os índios não vêm sendo ouvidos, em desrespeito à Convenção 169 da OIT. Isso é só parcialmente verdadeiro, e as ONGs que o estavam assessorando são partícipes desses empreendimentos como consultores e propositores de compensações. Nada de errado com isso, só que essas Ongs deveriam ao menos ter alertado o relator da ONU. Belo Monte, por exemplo, foi estudada por pessoas ligadas diretamente à Ong CTI que se apresentaram aos índios e os informaram sobre os seus prováveis impactos. O mesmo se deu em relação às usinas nos rios Madeira e Tocantins. Os índios estão sabendo desses empreendimentos e negociaram compensações. Ou não? Se não, tem sido por incompetência dos negociadores.
4. Em outros casos, não. Os índios do alto Xingu não queriam a Usina Paranatinga II e protestaram com veemência. Inutilmente. A usina está pronta e logo entrará em funcionamento. Já os índios Enawenê-Nawê têm feito fortes protestos contra as mini-usinas (PCE) que estão sendo construídas no rio Juruena. Chegaram a invadir o canteiro de obras de uma dessas usinas e quebrar diversos caminhões e alojamentos. Mas depois houve uma negociação intermediada pela Funai e pelo governador Blairo Maggi. Que é que soube Anaya sobre esse assunto? O que ele diria diante desse caso? É descaso do Estado, da Funai, do Governo Federal, do movimento indígena, de quem? É oportunismo e mal-caratismo de quem?
5. De todo modo, é verdade que os índios não são consultados de antemão sobre os planos do governo em relação a desenvolvimento econômico, construções de estradas, hidrelétricas, linhas de transmissão, etc. Para falar sério, ninguém é consultado sobre essas coisas. Mas, quando acontece desses empreendimentos intervirem ou impactarem uma terra indígena, de algum modo, em geral pela proximidade, os índios são avisados, ainda que tardiamente, e tenta-se entabular alguma negociação. Isto se deu no meu tempo de presidente da Funai, antes de mim e agora também. Pode-se argumentar que essas negociações são feitas após o fato consumado. Sim, aí há razões para reclamar. A verdade é que os índios não são considerados como parte essencial dos investimentos ou mesmo da visão futura do Brasil. Para que isso venha a acontecer, muita água tem que rolar debaixo da ponte. Acima de tudo, o movimento indígena tem que amadurecer rapidamente, deixar de ser tutelado pelas Ongs e procurar encontrar caminhos novos. Pois, os índios não vão ser capazes por si próprios ou com o auxílio das Ongs de definir prioridades para o Brasil ou para a Amazônia. O que eles podem e devem fazer é estar presentes nos momentos decisivos e ter força e persuasão para negociar o melhor para si.
6. Enfim, as consultas não são feitas com propriedade, mas são feitas. Ou se melhora a metodologia, ou o governo passa a consultar os índios e a sociedade brasileira no nascedouro de seus planos. Isto é importante para todos, mas especialmente para regiões como a Amazônia onde o estrago parece mais feio. O descaso do Brasil com os índios, nesse aspecto, é generalizado para todos nós.
7. A questão da saúde pública no Brasil é ruim, todos nós sabemos. Com os índios tem sido pior, não há sombras de dúvidas. Aqui o relator Anaya tinha panos para manga. Poderia ter analisado com cuidado a história sanistarista brasileira em relação aos povos indígenas, suas imensas carências e seu pouco, mas significativo sucesso. Apenas repercutiu que os índios reclamam muito da Funasa, mas que a Funasa vai melhorar se trabalhar junto com a Funai. Anaya não soube e portanto desconhece a história por trás da passagem da saúde indígena da responsabilidade da Funai para a Funasa, o quanto as Ongs foram responsáveis por isso, e o quanto agora elas dão uma de João-sem-braço fingindo que não têm nada a ver com o que aconteceu.
8. Idem para educação. Críticas corriqueiras. Poderia dar sua visão sobre se os índios devem ser educados nos moldes ocidentais, ou se devem permanecer em suas culturas, sem intervenção externa. Poderia se indagar o que os povos indígenas querem em relação a isso? Poderia analisar de onde deveria partir a educação indígena, se do plano federal, estadual ou municipal. Entretanto, ao final, acatando que o Estado brasileiro deve prover educação de qualidade, com especificidade para os índios, suas sugestões foram corriqueiras. As críticas e sugestões do relator Anaya não são novidades entre indigenistas e no meio do movimento indígena. Aliás, não foram bem sugestões, e sim carões o que Anaya pregou ao governo brasileiro.
9. O relator Anaya, que é índio americano do estado do Arizona, critica a política indigenista da Funai por ter uma atitude paternalista. Não há lugar-comum mais freqüente no meio das Ongs do que essa crítica. Ele poderia ter sido mais criativo e demonstrar o que quer dizer com isso. Sim, o jeito de se relacionar com índios no Brasil é diferente do que nos Estados Unidos. Entretanto, não totalmente. Nos Estados Unidos há uma Funai, chamada Bureau of Indian Affairs, que é responsável por muitos aspectos da vida indígena. Provê, por exemplo, educação específica para os índios, porém com um currículo integrador que favorece o índio a prosseguir seus estudos, se integrar na sociedade americana. O BIA tem o equivalente a postos indígenas e sedes regionais onde os índios procuraram obter recursos para suas atividades econômicas ou sua sobrevivência. Em quase 200 anos de atividades, nenhum povo indígena deixou de apelar para o BIA. O BIA decide quem é e quem não é índio, seja por contagem de parentesco, seja por historicidade guardada. Até agora, nenhum povo indígena americano (Federallly Recognized Tribes) pediu, por assim dizer, emancipação! Mesmo aqueles que são milionários, como os índios que têm cassinos em suas terras. O que Anaya quer dizer com paternalismo? Paternalista é uma atitude de querer resolver as coisas para alguém sem o consultar, achando que seu julgamento é melhor ou mais completo do que o do outro. É impor e fingir que não está se impondo. É, no caso, tratar os índios como criança. Entretanto, perguntar-se-ia: quem trata os índios como crianças nesse país? Proibir os índios de vender madeira, de negociar a entrada de garimpeiros, de beber bebida alcoólica – é paternalista ou não? Como analisar uma política indigenista que tem como dever expulsar madeireiro que entra em terra indígena por ter engrupido alguma liderança? Proibir a entrada de estranhos em terra onde os índios mal falam português é paternalista, protecionista, ou o quê? Acionar a Polícia Federal para fazer correr invasores que derrubaram a mata para plantar capim e botar boi no pasto é o quê?
10. O relator Anaya é a favor da auto-determinação dos povos indígenas, conforme a Declaração da ONU. Sim, também somos todos nós que trabalhamos com povos indígenas. Os índios também o querem ser. Mas o que se precisa para alcançar essa auto-determinação? Quais as implicações disso? Quais serão as continuadas obrigações do Estado brasileiro para com os povos indígenas que se auto-determinarem? E o que fazer com os povos indígenas que têm pouco conhecimento da sociedade brasileira, de suas manhas e de seus perigos, de seu poder e de sua violência? Declará-los auto-determinados e deixar que eles se virem, ou manter a presença do Estado (diga-se Funai) até que eles se sintam fortes para se auto-determinarem?
11. Enfim, há muitas coisas que se diz à vontade no meio de Ongs indigenistas, mas de que não se tem a mínima ideia de como realizá-las. O relatório Anaya não ajuda nesse aspecto essencial para se dar um salto de qualidade na questão indígena brasileira. Seus aportes vieram em forma de sugestões comezinhas, lugares-comuns, admoestações ao Estado e à Nação brasileiros. Não serão levadas em consideração porque são conhecidas, mas suas soluções não.
Algum dia os índios poderão se reunir numa nova grande Conferência e discutir suas questões sem a pieguice das Ongs e sem a supervisão do Estado. No osso. Aí eu acho que a questão indígena brasileira poderá encontrar um novo caminho, por uma nova concepção. Aí o governo que houver saberá que os índios têm uma visão comandante. Esse dia vai acontecer num futuro próximo.
UnB - Professor eleito vice-presidente da União Internacional |
19 de agosto de 2009 | |
A gestão da mais importante instituição de Antropologia do mundo conta com o trabalho de um professor da Universidade de Brasília. Gustavo Lins Ribeiro, chefe do Instituto de Ciências Sociais da UnB, se tornou vice-presidente da União Internacional de Ciências Antropológicas e Etnológicas no fim de julho. A entidade, criada em 1948, é vinculada à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e congrega pesquisadores de todo o mundo. Gustavo Lins Ribeiro ficará à frente da instituição até 2013. O professor espera que sua escolha para a União Internacional fortaleça a UnB internacionalmente. “É uma grande honra para um antropólogo brasileiro estar em uma posição como esta, na única instituição internacional de Antropologia”, disse Lins, em entrevista à UnB Agência. Na universidade, o curso de pós-graduação em Antropologia é o único que possui a nota 7 da Capes, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Confira a entrevista: UnB Agência – A presença do senhor nessa entidade significa o quê para o Brasil? E para a universidade? Gustavo Lins Ribeiro – A antropologia brasileira tem um grande destaque internacional e é muito respeitada nos principais centros de produção acadêmica. É uma grande honra para um antropólogo brasileiro estar em uma posição como esta na única instituição internacional da disciplina. Certamente, procurarei, em conjunto com outros colegas de direção, representar as perspectivas e tradições da antropologia brasileira e latinoamericana. Há muito por fazer. Ao lado do meu nome, está o da UnB, algo que ajuda a fortalecer a imagem de excelência acadêmica e científica que construímos aqui. Queremos também fazer, talvez em 2014, um congresso da entidade em Brasília. UnB Agência – O senhor acha que, de alguma forma, sua eleição pode incentivar outros pesquisadores da UnB? Ribeiro – É difícil que a minha eleição, ou a de qualquer colega, possa ajudar outros estudiosos de forma direta. Mas, de maneira otimista e sem nenhuma pretensão, talvez a eleição possa servir de inspiração para outros colegas com tendências cosmopolitas e interesse na política científica global. Acho que, em geral, nós brasileiros somos pouco ativos nessa frente, a despeito da alta qualidade de muitas práticas científicas e de muitas lideranças acadêmicas nossas. UnB Agência – As pesquisas antropológicas da UnB têm um foco principal? Ribeiro – Não. Nosso departamento tem uma pluralidade de interesses de pesquisa muito grande. Mas, se há algo que qualifica nossa prática acadêmica, é a de uma certa horizontalidade que praticamos. Não existem colegas donos de uma área, como se fossem os grandes catedráticos, e que, a partir dessa posição, pretendam criar seguidores, discípulos, como se fossem grandes gênios. Nossa modéstia consciente e nossa dedicação ao trabalho acadêmico levam a respeitar as propostas de trabalho de todos como igualmente relevantes. É claro que o importante são os resultados que daí derivam. Vários colegas, a partir de suas pesquisas, terminam se dedicando, de uma forma ou de outra, a influenciar políticas públicas ou a fazer parte de movimentos da sociedade civil. UnB Agência – Quais são as principais discussões e desafios da área? Ribeiro – A Antropologia é uma disciplina extremamente ambiciosa. Está interessada em decifrar desde os mitos de populações indígenas até as práticas e ideologias de laboratórios científicos de ponta. Mas ainda somos vistos como os grandes especialistas na questão das diferenças culturais, étnicas, e, acrescentaria, políticas, sociais e de gênero. Essas questões não deixarão de ser importantes nunca. Ao contrário, à medida que a globalização avança, elas se tornam mais relevantes. Nossos maiores desafios são de fazer chegar à sociedade em geral, e aos tomadores de decisão em particular, informações cruciais que permitam a perene construção de um mundo cada vez mais justo para todos. |
22 de agosto de 2009
Fonte: Portal Amazônia, com informações do Cimi
MANAUS - Indígenas do povo Apolima-Arara estão acampados na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Rio Branco, Acre, desde 12 de agosto. Ontem (21), um grupo de 20 pessoas deve chegar para fazer parte da mobilização somando cerca de 80 indígenas.
Os manifestantes exigem a imediata publicação da portaria que declara a terra Arara do Amônia como tradicionalmente ocupada pelos indígenas. Outra reivindicação é a nomeação de um novo administrador da Funai local.
Desde o início de agosto o antigo administrador foi exonerado e até agora o órgão indigenista está sem administração. A última informação que os indígenas receberam é a de que o Ministro da Justiça, Tarso Genro, deveria assinar a portaria declaratória nesta quinta-feira (20). Cerca de dez povos diferentes estão presentes na manifestação.
Os Apolima-Arara vieram de sua terra localizada no Município de Marechal Thaumaturgo, vale do Juruá, distante mais de mil quilômetros da capital do Acre. A viajem até Rio Branco demorou cerca de dez dias. Eles se deslocaram por meio de canoas, barcos, carona em caminhão e, finalmente, andaram um grande trecho a pé.
Francisco Arara, cacique do povo Arara e um dos líderes da mobilização, destaca a insatisfação do povo e a urgência dessa portaria declaratória. “Nós precisamos dessa portaria para termos paz. Recebemos ameaças constantes de posseiros, caçadores e madeireiros. Dentro de nossas terras, temos lagos e nem podemos pescar porque sempre somos ameaçados”, diz.
O cacique ressalta que com a portaria, fica mais fácil proteger a terra. “Se regularizarem a nossa terra, não vamos deixar que façam extração ilegal de madeira ou mesmo caça predatória”, ressalta. Sobre as ações predatórias na área, várias denúncias foram feitas, mas, infelizmente, nenhuma medida foi tomada pelos órgãos responsáveis até o momento.
Luta antiga
A luta pela demarcação da terra indígena Arara do Amônia já se estende por mais de nove anos. Durante esse tempo muitos conflitos aconteceram na área e continuam acontecendo. Segundo o cacique Francisco Arara, eles não sairão da sede da Funai enquanto não for publicada a portaria declaratória. “Já temos o apoio de outros povos também insatisfeitos e que vão se juntar à luta”.
Dia 12, eles foram recebidos pelo administrador substituto, Julio Barbosa, que se prontificou em encaminhar um documento para a Funai em Brasília pedindo que ela acelere o processo e converse com o Ministro da Justiça. Além de acamparem na Funai, os índios esperam ser ouvidos pelo Ministério Público Federal. (RC)
A demarcação de terras em Mato Grosso do Sul foi o principal assunto discutido no último dia do seminário “A Imagem dos Povos Indígenas na Mídia”, no CineCultura em Campo Grande, como parte da programação do Vídeo Índio Brasil 2009. No domingo pela manhã, o tema colocado à mesa foi “Nós Estamos Aqui – A Realidade dos Guarani em Mato Grosso do Sul”, discutido pelo antropólogo Rubem Almeida, o historiador Antonio Brand e o cacique Guarani-Kaiowá Ambrósio Vilhalva, mediados pelo coordenador-geral de artesanato da Funai, Pedro Ortale.
Lideranças indígenas falaram da importância da terra para a preservação da cultura. Exemplificando que a relação entre o homem branco e o índio com a terra é diferente. Enquanto um a utiliza para viver o outro faz parte dela.
Para o antropólogo Rubem Almeida a resolução do impasse só pode acontecer com entendimento entre todos os envolvidos. “É preciso diálogo, muita conversa. Na minha opinião não deve ocorrer a criminalização dos produtores rurais. Infelizmente o que ocorre é que o governo não deseja dialogar”.
Rubem ainda chamou a atenção para um dado importante. Segundo ele, as terras destinadas aos povos indígenas seriam infinitamente menores do que a imprensa e o governo ventila. “Falaram em 26 milhões de hectares, outros em três milhões. Pelos meus estudos posso afirmar que, se muito, as terras destinadas a este fim não devem ultrapassar 800 mil hectares”, crê.
O professor e historiador Antônio Brand, coordenador do programa Rede de Saberes do Neppi (Núcleo de Estudos e Pesquisas Indígenas), enfatizou a urgência para a resolução de um problema que afeta 45 mil pessoas em Mato Grosso do Sul. “Infelizmente, a classe política é contra a decisão de demarcar as terras. Mas sem isso será impossível dar qualidade de vida a um povo que vive oprimido”, afirma.
O Pajé Nito Guarani disse desejar apenas que seu direito seja respeitado. “Queremos apenas nosso direito, recuperar nosso território. Antes conversávamos com a natureza, hoje não é possível. Porque acontece o suicídio? Porque nossos irmãos perdem a esperança”. O cacique Ambrósio Vilhalva reiterou ainda a necessidade de uma sociedade mais justa, pois “ninguém é mais que o outro.”
Da platéia, a produtora rural e antropóloga Roseli Maria Ruiz, que acompanhou os seminários no fim de semana, explicou que produtores rurais, assim como os indígenas, também são vítimas. “Minha família comprou as terras há mais de 50 anos. Temos todos os documentos. Assim como os indígenas, somos vítimas de políticos irresponsáveis”. Para ela, o problema deve ser resolvido com entendimento.
O seminário “Nós Estamos Aqui – A Realidade dos Guarani em Mato Grosso do Sul” fechou um ciclo de debates realizados deste o dia 11 deste mês e que discutiu, como tema central “A Imagem dos Povos Indígenas na Mídia”. Passaram pela mesa de discussões antropólogos, caciques, pajés, atores indígenas brasileiros e bolivianos, cineastas índios e não índios, professores de diversas etnias indígenas, jornalistas e produtores culturais.
Foto: Vincent Carelli/Divulgação |