segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Drops indigenistas -- 15

1. Semana difícil na Funai. Os servidores estão chateadíssimos com uma proposta de reestruturação proposta pela direção do órgão feita em cima do joelho. Poucos estão satisfeitos com o que pode vir por aí. Outro dia alguém perguntou: se nem terra indígena a Funai não demarca, para que serve? Devagar, ainda tem saída.

A atual gestão da Funai teve desde o início o propósito de minar a Funai. Dominada por pessoas ligadas a Ongs indigenistas que sempre se aproveitaram das informações e da legitimidade do órgão para crescer em cima dele, agora que dominam o órgão aproveitam para enfraquecê-lo ainda mais. A ficha está caindo para os servidores e indígenas.

A reestruturação pretende acabar com as Coordenações Gerais de Educação e de Arte Indígena. Em todos esses anos em que a grande parte do orçamento da educação foi retirado da Funai sobrou um pequeno núcleo de educadores experientes na Funai que fez essa parte essencial da assistência ao índio funcionar minimamente. Deixar a educação só com o MEC será um desperdício ainda maior que prejudicará ainda mais os índios. O exemplo da Funasa está aí para comprovar.

Já acabar com a Arte Indígena é pura maldade e desorientação. Ninguém sabe como os índios que vendem seus artesanatos serão tratados daqui por diante.

Outra insatisfação é com a possível saída de grande parte dos arquivos da Funai para o Museu do Índio, no Rio de Janeiro. E para onde irá o Museu do Índio, do jeito que ele é dirigido atualmente? Fala-se em ser transferido para o Minc. Isto estava planejado para acontecer quando entrei na Funai como presidente e consegui sustar esse propósito nefasto. Agora, quem defenderá a permanência do Museu do Índio na Funai?

Os servidores da Funai, incluindo indigenistas e quadros burocráticos, querem reatar um relacionamento com as lideranças indígenas de raiz. Sabem que o órgão corre perigo e que sem a ajuda dos índios, o governo leva adiante a insensatez da atual direção da Funai.

2. Por sua vez, a Funai ganhou mais 85 cargos comissionados para distribuir a quem quiser. É o preço cobrado pela reestruturação. Cargos de DAS são sempre benvindos para qualquer órgão. Só não se sabe para que servirão. Tudo indica que será para acomodar pessoas na tal reestruturação planejada.

3. O movimento das lideranças de raiz contra a Usina Belo Monte chamou a atenção de meio mundo ambientalista e indigenista. A grande reunião foi realizada no dia 1º de novembro e teve a participação de mais de 200 líderes de várias aldeias do Xingu. Inclusive de pessoas de muito prestígio do Alto Xingu. Muita gente de fora, especialmente Ongs, apoiaram-no, sobretudo depois que viram o quanto de irresponsável foi o licenciamento dado pela atual direção da Funai. Até os técnicos da Funai que fizeram o parecer ficaram chateados pois se sentiram traídos pela direção do órgão, já que em seu parecer apontam para várias falhas e questionamentos dos relatórios feitos pelos antropólogos contratados pelas CNEC. Porém os pareceristas foram ingênuos e não exigiram o tanto que seria necessário para reabrir uma discussão. Já os índios, fica evidente que eles não querem nada do que lhes prometeram.

4. Os Kayapó estão aliados firmemente aos Xavante e aos demais povos indígenas de todo o vale do Xingu contra a Usina Belo Monte. Prometem que não vão deixar a Usina passar. Só que o leilão de licitação para o início das obras está planejado para 21 de dezembro. O que farão os índios sobre isso?

5. As associações indígenas, antes indecisas, estão agora apoiando o movimento dos xinguanos de qualquer jeito. Estão aos poucos se afastando dos comprometimentos que haviam acertado com a atual direção da Funai por conta da ideia ilusória de que estavam fazendo política indígena de verdade. A decepção está formada e as consequências virão.

6. No Mato Grosso do Sul a situação está pegando fogo. Os índios Guarani e Terena estão se dando conta da enganação a que foram submetidos com a promessa de que novas terras indígenas seriam demarcadas. Um grupo grande de índios não aceita mais a administradora de Dourados, colocando toda a culpa das decepções sobre essa pobre pessoa. O fato é que ela também se iludiu e está pagando o pato.

7. Ah, e que tal essa. Os índios Tikuna pretendem criar uma delegacia indígena, com indígenas policiais e métodos próprios de controle policial, ao lado da cidade de Tabatinga. O secretário de assuntos indígenas do Amazonas diz que é a favor. Que coisa, hein? Nessa altura do campeonato! Socorro Ministério Público!

Um comentário:

Santos disse...

Ainda faltam uns 400 dias para o fim do governo Lula...é tempo o suficiente para fazer muita besteira. Sem dúvida é um governo menos ruim que o do FHC, com mais avanços na área social. Porém, na questão indígena (e também ambiental) é uma lástima total. Seria mais honesto extinguir de uma vez a FUNAI (o que agradaria as ONG's e a bancada ruralista) do que promover esse retalhamento aos poucos, agora travestido com o termo "reestruturação". Aliás, esse governo é especialista em inventar novos termos para antigas práticas, como a tal Inclusão Social, que aplicada aos índios é a velha Integração/Assimilação.

 
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