quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Xukuru-Kariri lutam por suas terras


O mundo indígena, em certas partes do Brasil, é constituído no meio de lutas imensas. A causa dos índios Xukuru-Kariri, da cidade de Palmeira dos Índios, é uma delas.

Esse povo indígena, que teve em Maninha Xukuru, até recentemente, uma grande e saudosa líder, vem tentando há muitos anos recuperar uma parte das terras que ocupavam no século XIX, e que lhes foi subtraída após a Revolta dos Cabanos, da qual participaram esses índios. Essa rebelião contou com a participação de diversas comunidades indígenas da região ao mesmo tempo que estava ocorrendo a Cabanagem, no Pará. Foi uma luta semelhante àquela mais conhecida, onde, a partir de uma disputa entre elites fazendeiras regionais, os índios entraram na liça e terminaram engrossando o caldo e tomando a rebelião em suas mãos. Porém pouco se sabe sobre ela. Um grande intelectual alagoano, cujo nome me escapa nesse momento, tem um livro detalhado sobre esse rebelião.

O SPI reconheceu a existência dos Xukuru-Kariri desde os anos 1920, logo que chegou ao Nordeste. Tentou em algumas ocasiões delimitar suas terras, sem obter mais do que um pífio resultado, comprando de um fazendeiro decadente um lote de terras onde muitas famílias Xukuru-Kariri se estabeleceram. Grande parte dos Xukuru-Kariri ficaram morando na periferia de Palmeira dos Índios, ou como agregados de fazendas.

Nos últimos 10 anos, depois de muitas idas e vindas na tentativa de reconhecer o perímetro das terras outorgadas aos Xukuru-Kariri, que, inclusive envolvia parte do perímetro urbano de Palmeira dos Índios, uma antropóloga da FUNAI conseguiu estabelecer e negociar com os índios um perímetro razoável de terras para a sua demarcação.

Porém as dificuldades estão se amontoando. A matéria abaixo retrata um pouco do que está acontecendo na região. A tendência é ficar mais difícil nos próximos meses. Este é mais um caso que terminará desembocando no STF.

A intervenção estadual e do Ministério da Justiça vai ser eventualmente requisitada pelas partes. O que a matéria jornalística mostra é que algumas lideranças indígenas estão pedindo a interferência da Polícia Federal, pois há perigo de vida dessas lideranças. Um procurador da República, que abraçou a causa dos Xukuru-Kariri, também foi acionado pelos índios. A FUNAI de Alagoas é dirigida por um índio Kariri-Xocó e certamente está ao lado dessa causa. O curioso é que essas lideranças estão reclamando da presença de dois antropólogos, "vindos do Norte", que estariam insuflando os fazendeiros a não aceitar a proposta de demarcação da FUNAI.


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Índios denunciam prefeito, fazendeiros e antropólogos e pedem intervenção da PF

Vanessa Alencar/Alagoas24horas

Depois de denunciarem ameaças feitas pelo fazendeiro Val Basílio, no domingo, 14, representantes dos índios Xukuru-Kariri, da comunidade Monte Alegre, de Palmeira dos Índios, fizeram novas e graves denúncias com relação ao clima hostil enfrentado pelas comunidades indígenas da região desde a aprovação da demarcação de terras indígenas no município.

Liderados pelo cacique Chiquinho e pelo pajé Xareu Porã, os representantes se reuniram na tarde desta quarta-feira, 17, com integrantes do Movimento Social Contra a Criminalidade (MSCC) para buscar o apoio da entidade.

Segundo o cacique, em uma reunião ocorrida ontem (terça-feira), entre o prefeito de Palmeira dos Índios, Albérico Cordeiro e fazendeiros locais, dois antropólogos oriundos do Norte do País – que teriam vindo para Alagoas por intermédio do prefeito – estariam incentivando o conflito, instigando os fazendeiros a usarem de violência. “Eles propuseram a nossa extinção, a nossa aniquilação”, desabafou Chiquinho.

Essa e outras denúncias serão formalizadas no final da tarde de hoje, quando representantes dos índios e do MSCC se reúnem na superintendência da Polícia Federal com o delegado Nilton Ribeiro, superintendente interino da PF em Alagoas.

“Estamos com medo e vamos denunciar as ameaças que temos sofrido. Queremos garantias e proteção da Polícia Federal para resolver o conflito”, disse o cacique.

“Nosso objetivo é mediar o debate para evitar um confronto. Sugerimos que a Funai reúna os fazendeiros e os índios em um local neutro para aprofundar o debate e chegar a um consenso”, acrescentou Jorgelson Veras, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Federais, que integra o MSCC.

A ameaça

Segundo o cacique Chiquinho informou, o fazendeiro Val Basílio – ex-proprietário das terras retomadas pelos índios em Palmeira - esteve em uma reunião da comunidade no domingo passado para intimidar os índios. “Ele afirmou que, se em três meses a Funai não resolvesse a indenização dele nos colocaria para fora. São oitos comunidades nessa situação e todas sofrendo ameaças diversas. Só queremos o que é nosso, por isso precisamos da demarcação já!”, finalizou.

De acordo com informações da assessoria de imprensa da Funai, o procurador federal João Sila irá até a Delegacia de Palmeira dos Índios nesta quinta-feira (18) prestar queixa de Val Basílio.

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