A participação de índios na política brasileira vem desde os tempos da gloriosa campanha do Xavante Mário Juruna, quando se candidatou e se elegeu deputado federal pelo PDT de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, em 1982, com 31.000 votos. Sua eleição foi saudada como o início da participação dos índios no Congresso Nacional. Porém, em 1986, tentando a reeleição, não recebeu nem um terço dos votos originais. Os eleitores cariocas haviam se cansado de algumas atitudes que o deputado havia tomado.
De lá para cá, muitos índios tentaram eleições para deputado federal ou estadual, como Samuel Karajá, Marcos Terena, Pedro Garcia, Jeremias Xavante e outros. No Amazonas quase que Pedro Garcia se elegia deputado federal pelo PT. Em Roraima, o filho do cacique Jacy Makuxi chegou perto. Marcos Terena tentou por diversas vezes. Na última, em 2002, para deputado estadual pelo seu estado Mato Grosso do Sul, teve menos de 250 votos. Sua popularidade não está com seu povo, que tem mais de 12.000 eleitores naquele estado.
No panorama municipal os índios têm tido um pouco mais de sucesso. Há pelo menos cinco indígenas prefeitos espalhados pelo Brasil e um pouco menos de uma centena de vereadores. Quando um índio se elege vereador, ele é assediado por todo tipo de gente, desde mocinhas até grileiros de terras. Na cidade de Gaúcha do Norte, há um índio Mehinaku vereador, e ele termina se enfronhando com o pessoal da cidade e os convidando para conhecer suas aldeias, etc.
Este ano, nas eleições municipais, haverá muitas candidaturas. A notícia abaixo trata das candidaturas de vereadores Guarani para as cidades de Dourados e Itaporã, que fazem limites com a Terra Indígena Dourados, com mais de 12.000 índios, portanto, pelo menos uns 6.000 eleitores. Certamente que, se todos votassem em um ou dois candidatos índios, eles seriam eleitos.
Os candidatos já estão com seus discursos prontos. E não são discursos muito diferentes dos discursos dos "brancos". Promessas e promessas, claro, e muita bravura. Certamente que a reivindicação de ampliação de terras é uma boa pedida, mas não para os eleitores não indígenas. Um dos candidatos já tem seu discurso moderado.
Os índios estão sendo envolvidos pelas políticas municipais, pelos interesses coletivos, e mais, pelos interesses pessoais dos que têm poder. Esse envolvimento certamente é uma armadilha, onde haverá cada vez mais contatos e relacionamento próximo entre índios e não índios, e onde os índios, sempre minoritários e em posição dominada, serão aqueles a mudar de comportamento para se adaptar ao mundo envolvente.
Não haverá escapatória. É o processo de inclusão social, de integração política e de aculturação rápida. Alguns índios se darão bem, a maioria vai ficar mais à mercê do mundo envolvente.
Por outro lado, a inclusão social e a integração política levarão os índios a buscar oportunidades urbanas. No caso dos Guarani da Terra Indígena Dourados, o objetivo dos candidatos é esse mesmo. Obter oportunidades de emprego urbano para que aquela terra seja transformada numa espécie de bairro da cidade de Dourados. Urbanizar aquela área é o caminho da inclusão social. O processo vai ser longo e controvertido, e seu sucesso dependerá da visão de futuro que os índios venham a ter.
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Índios vão disputar vaga no legislativo de Dourados
Dourados Agora, colaborou Valéria Araújo
Indígenas de Dourados já se mobilizam para conquistar uma vaga na Câmara de Vereadores de Dourados. O corre-corre de candidatos em busca de apoio começou desde o meio do ano passado, quando dezenas de indígenas se filiaram a partidos políticos. Na estratégia para eleger o maior número de indígenas possível, os candidatos se filiam em partidos diferentes.
De acordo com o indígena da etnia caiuá Sergio Veron (DEM), os índios de Dourados e Itaporã já estão unidos para eleger dois representantes. "A idéia é ter pelo menos um vereador na área indígena que corresponde ao município de Dourados, assim como em Itaporã. Desta forma toda a reserva, que conta hoje com 14 mil indígenas, sendo 3,9 mil deles de Itaporã, vai contar com os benefícios resultado da luta dos novos parlamentares", afirma.
O objetivo, segundo correligionários e líderes do DEM é viabilizar recursos que garantam melhorias para a comunidade, que conta hoje com 14 mil habitantes, disputando espaço em 3.475 hectares de terra. "Somente o índio sabe o que de fato é melhor para ele. O branco nunca vai entender nossa cultura e por esta razão, nós mesmos temos que nos unir para garantir melhorias para o nosso povo", disse.
Segundo Veron, a reserva de Dourados "explodiu" ao invés de crescer. "Sem nenhum planejamento as aldeias parecem mais área urbana. Os indígenas estão sufocados, sem espaço para plantar, sem espaço para viver da terra. [...] Outra proposta é evitar fechamento de estradas. Com rodovias fechadas a economia da cidade é prejudicada e não queremos mais ser responsáveis por isto. Os comerciantes não devem pagar por um impasse que envolve governo e indígenas", reforça.
O cacique Renato de Souza, da aldeia Jaguapirú, se filiou ao PT do B. Em entrevista recente ao Dourados Agora ele disse que a chance de disputar uma vaga no legislativo trouxe esperança para a comunidade indígena. "Nunca pensei em me envolver na política, mas sinto que posso ajudar as famílias da reserva. O índio faz parte da sociedade e precisa ser ouvido. [...] Muitas coisas precisam ser mudadas com urgência como a violência na reserva, causada por alcoolismo, drogas e prostituição", afirma.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
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