A Austrália mudou de governo há alguns meses, tendo agora um primeiro-ministro trabalhista, e resolveu fazer o quê os aborígenes vinham pedindo há muitos anos. O perdão pelos anos de política assimilacionista que praticou até 1969.
O que foi a política assimilacionista da Austrália?
Foi nada mais nada menos do que a retirada de crianças aborígenes para serem criadas por famílias brancas. Foi a escolarização forçada em missões. Foi a ausência de reconhecimento das terras aborígenes. Foi a expulsão sumária de grupos nômades aborígenes das terras valorizadas. Foi a matança em massa que ocorreu no século XIX.
Quando era representante do Brasil nas delegações internacionais, estive com alguns líderes aborígenes. O sonho deles era o reconhecimento do seu valor cultural e político para a formação da nação australiana. Admiravam-se da política indigenista brasileira, mesmo quando eu lhes dizia que também no Brasil houve épocas de matanças de índios, especialmente pelo governo português, quando declarava um povo indígena "incivilizável".
Falando em português, que me perdõem os amigos portugueses, mas o pior tempo para os povos indígenas do Brasil foi a chegada da Coroa há 200 anos atrás. Nessa ocasião Dom João VI, o príncipe regente, promulgou uma série de alvarás concedendo a qualquer pessoa o direito de armar uma tropa para atacar diversos povos indígenas, como os Botocudos (Pataxó e outros), os Kaingang (Coroados), os Avá-Canoeiros, os Timbira e outros mais. Ao atacá-los, tinham o direito de fazê-los escravos por 15 anos, como ressarcimento por suas despesas.
A situação da Austrália é bastante diferente da brasileira, e eles sabem disso. Mas o passo que estão dando é importante para uma grande reconciliação e mais respeito pelos aborígenes.
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Austrália pedirá desculpas a aborígenes
Giovana Vitola
De Sidney para a BBC Brasil
O pedido de perdão é prioridade do novo governo na Austrália.
O governo australiano anunciou nesta quarta-feira que fará seu primeiro pedido formal de desculpas à população aborígene por injustiças cometidas no passado.
De acordo com a ministra australiana de Assuntos Indígenas, Jenny Macklin, o pedido de perdão foi marcado para o primeiro dia de atividades do novo Parlamento do país, no dia 13 de fevereiro.
Segundo Macklin, o pedido formal é uma prioridade do novo governo e vai representar um novo começo nas relações entre povos aborígenes e o resto da população.
A ministra afirmou ainda que a decisão "é o primeiro passo para deixar o passado para trás e seguir em frente".
O governo quer se desculpar pela "política de assimilação", que permitia que crianças aborígenes fossem tiradas de suas famílias para viver com famílias brancas.
Milhares de crianças aborígenes foram vítimas dessa política, adotada pelo país entre 1915 e 1969.
Perdão
O primeiro-ministro eleito, Kevin Rudd, anunciou os planos de pedir perdão aos aborígenes durante seu discurso da vitória nas eleições gerais de novembro.
O pedido de perdão já havia sido formalizado pelos governos locais dos seis estados da Austrália. No entanto, o ex-primeiro-ministro John Howard se recusava a aceitar a decisão, dizendo que os abusos cometidos no passado não tinham relação com australianos de hoje.
Mas para o novo primeiro ministro, Kevin Rudd, “o pedido vai ajudar a unir o país”.
Líderes tribais e de organizações de defesa de direitos de aborígenes fizeram campanha pedindo bilhões de dólares de indenização por causa da política de assimilação.
Mas o governo rejeitou a proposta, prometendo criar um fundo para investir na educação e saúde em comunidades aborígenes.
O povo nativo australiano soma atualmente 450 mil pessoas e é considerado o grupo étnico mais pobre do país.
O grupo registra altos índices de analfabetismo e desemprego, e a expectativa de vida dos aborígenes é 17 anos inferior ao resto da população australiana.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
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