Grande notícia, realmente! Sobretudo porque o órgão só tem cerca de 2.000 funcionários atualmente, a grande maioria de veteranos em vias de aposentadoria. É preciso que o órgão saiba aproveitar os indigenistas atuais para poder treinar esses jovens entrantes em breve.
A experiência indigenista da Funai, a capacidade e experiência de seus quadros é um patrimônio brasileiro e não pode, não deve ser desperdiçado. Apesar das críticas das Ongs, a grande maioria dos indigenistas da Funai, e nisso incluem-se índios e funcionários administrativos, têm uma visão de que o órgão precisa se renovar, que uma nova Funai precisa ser criada. Eis a oportunidade.
Os cargos previstos serão de níveis superior, médio e fundamental, que terão salários nas faixas de R$ 2.654,oo até R$ 3.840,00. Não me parecem salários à altura dos encargos que esses indigenistas terão, mas, em geral, receberão adicionais como parte do serviço público em geral.
Das 425 vagas, 200 serão para o nível superior, isto é, para quem concluiu curso universitário e serão chamados, no novo plano de carreira, de indigenistas especializados. 150 serão de nível médio e serão chamados agentes em indigenismo. E 74 serão de nível fundamental, e serão chamados de auxiliar indigenista.
Em minha visão, a Funai deve começar seriamente a pensar em absorver o máximo possível de indígenas nos seus novos quadros. Acho que o concurso que virá para preencher essas vagas deve ser direcionado para favorecer a entrada de indígenas. Mas nem por isso sem deixar de definir critérios de mérito. Por exemplo, para a região amazônica, a afluência, o conhecimento e uso de uma língua indígena deve contar pontos extra. Para a região nordeste, o conhecimento da história dos índios nordestinos deve ser fundamental. E novos critérios criativos e sérios deverão ser criados para esse concurso, antes que só passem os cdf que vivem a estudar para concurso público e pouco se interessam pela questão indígena brasileira.
A Funai realmente poderá se renovar a partir desse concurso. O movimento indígena deve estar atento para isso e saber que, sem uma Funai forte, suas condições de existência e fortalecimento ficam prejudicadas.
O Edital do Concurso deverá ser publicado com prazo até janeiro de 2010.
3 comentários:
A notícia é boa e ruim ao mesmo tempo. No final do ano passado o governo criou para a FUNAI um total de 3100 vagas, dentro dos novos cargos de Indigenista Especializado, Agente Indigenista e Auxiliar Indigenista. No começo de 2009, a promessa era de que o MPOG autorizaria para esse primeiro concurso algo em torno de 1200 vagas. Depois começou a se falar em 800 vagas. E finalmente o MPOG acaba autorizando 425 vagas.
Sem dúvida é um alívio diante da atual situação da FUNAI e uma oportunidade para vários indigenistas que estão espalhados por outros órgãos e que, como eu, querem retornar. Mas é pouco perto das reais necessidades e considerando que dificilmente outro concuros será autorizado ainda no governo Lula... e sabe-se lá no futuro.
O edital vai definir quantas vagas para cada unidade regional da FUNAI. Quantas serão para Dourados/Amambai (MS), onde vivem 45 mil Guarani com grave situação de vulnerabilidade social? E quantas para o Alto Rio Negro? Fortalecer a FUNAI lá e no Xingu, significa começar a reocupar um espaço hoje dominado pelo ISA (para o bem e para o mal). Vão comprar essa briga?
Justamente por ser uma quantidade de vagas abaixo do esperado, não se pode perder a oportunidade de fazer um concurso bem feito. Quais os profissionais e as áreas de atuação dentro daqueles cargos genéricos? Proteção social, atividades produtivas, gestão ambiental, valorização cultural, além do papel, hoje bastante vago, de “apoiar e acompanhar” as ações do MEC e FUNASA.
Por falar em FUNASA, está aberto para aquele órgão um concurso que inclui o cargo de Técnico Educacional, cuja função, conforme está no Edital, será “mudar o comportamento dos índios” visando melhorar a assistência à saúde. Ainda sobre os Guarani do MS, a FUNASA também costuma contratar psicólogos para cuidar da questão dos suicídios. Como se fosse um problema emocional dos índios, a ser enfrentado colocando um divã em cada aldeia. É o fim da picada. Como a FUNAI “acompanha” uma situação ridícula como essa? Aliás, uma grande medida do governo Lula ( eu até votava na Dilma se isso ocorresse) seria explodir a FUNASA em várias micro-partículas.
Bom, mas pelo menos a FUNAI começa a dar os primeiros sinais de que está saindo do estado de coma e de que pode efetivamente assumir seu papel de proteção e promoção dos povos indígenas, não mais tendo o monopólio das ações mas atuando como agente de coordenação e integração das diversas políticas hoje pulverizadas. Superando os erros do passado mas ao mesmo tempo aproveitando a experiência de vários indigenistas de grande valor, tanto os mais antigos quanto os que entraram naquele pequeno concurso de 2004.
Não todos que estudam para concursos são cdf. Ainda mais quando a questão é índio. Quem vai querer ir trabalhar no meio do mato se não gostar disto? Salário de dois ou três mil reais não motiva a ninguém a ir morar numa aldeia!
Sou descendente de indios purí, erroneamente chamados de bugres, e estava aguardando a Funai abrir as portas para sangue novo entrar.
Realmente é triste ver que, de três mil vagas caiu até 425!
Infelizmente no Brasil, tanto faz de Lula ou outro político qualquer, pouco, ou nada, se faz pelos grupos menos favorecidos: negros, homossexuais, miseráveis, índios e etc.
Como sei que inúmeros indigenistas participam deste blog deixo aqui uma pergunta: quais as melhores matérias para o cargo de agente em indigenismo e auxiliar em indigenismo?
Olá Dr Mércio, pensar em desafios é uma associação imediata para mim quando penso no trabalho da Funai,tenho quase vinte anos de saúde pública , sou biológa, e sempre me atraiu conhecer mais de perto o trabalho desta fundação paralelamente questionamentos me rodiaram todos esses anos e agora me deparo inscrita no concurso e vejo ao abrir pela primeira vez o seu blog o mesmo pensamento que os indíginas poderiam contribuir muito e acredito por não exigir prova de títulos e ter muito conteúdo sobre antropologia indígina possa ter motivado e facilitado o acesso de candidatos indíginas , não quero dizer não existe indíos com pos graduações e etc... Receio que os que vivem para estudar para concursos encontrem neste concurso uma porta de entrada e depois por não se identificarem com o trabalho ( principalmente ) se afastem e prejudique quem realmente tem desejo de fazer carreira na Funai.Quanto ao Decreto 7 056 de 28 de dezembro de 2009 o senhor acha que devido a carência de profissionais serão aproveitados os classificados neste concurso?
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