segunda-feira, 26 de abril de 2010

A poeira do leilão de Belo Monte


A poeira do leilão da Usina Belo Monte ainda não assentou. Ela revoa inquieta nas disputas jurídicas, nas tentativas de resistência, nas discussões dos encaminhamentos. Ainda teremos algum tempo até que todos os aspectos dessa saga sejam conhecidos e explicados. Assim, os comentários aqui apresentados são preliminares.

Por enquanto, o que temos são, de um lado, as lamentações e reclamações dos perdedores, e, do outro lado, o grito de vitória dos vencedores. O grande vencedor, ou aquele que mais gritou glorioso, foi o próprio Presidente Lula, que, inclusive, sem magnanimidade, criticou as empresas que antes haviam desistido do leilão e até as que ameaçaram sair do consórcio vencedor, e disse que se for preciso as empresas estatais assumirão a tarefa. Já as empresas vencedoras, tendo à frente a CHESF, até que se portaram com magnanimidade, convocando novas empresas para participar do seu consórcio. Construir Belo Monte será tarefa hercúlea e necessitará não somente de capital, como também de know-how, expertise e experiência. O consórcio vencedor quer empresas para as quais parte da energia lhes sirva de imediato, as chamadas auto-produtoras, como Vale e Alcoa, que têm siderúrgicas na região.

Até o dia 23 de setembro deste ano, o consórcio vencedor estará ajustando os ponteiros para deslanchar o processo de construção. Portanto, tem-se aí cerca de cinco meses de trabalho preliminar, mas extremamente importante. Já estão desde já buscando novas técnicas e estratégias para baixar os custos de construção. Vão definir novos sócios, dividir e compartilhar responsabilidades, constituir alianças políticas com as prefeituras e recompor o mal-estar criado em 25 anos de controvérsias com segmentos da Igreja Católica, ambientalistas, ribeirinhos, cidadãos de Altamira e cidades vizinhas, e, acima de tudo, com os povos indígenas.

O que os vencedores querem é transformar essa vitória em fato consumado, rechaçando de vez os contrários que se comportaram como adversários ferrenhos, especialmente o Ministério Público e os fautores da judicilização da questão, arrefecendo os protestos da opinião pública, especialmente as Ongs ambientalistas, e apaziguando os diretamente prejudicados, ribeirinhos e indígenas, mostrando-lhes as possíveis vantagens por uma nova luz.

É difícil prever como essa reconciliação será realizada – se é que venha a ser, ou se está nas mentes dos vencedores fazê-lo. Por enquanto o que há é, da parte dos perdedores, uma tentativa de contabilizar as perdas, de reconhecer os culpados e as estratégias erradas que resultaram na vitória dos propositores do projeto Belo Monte. Da parte dos vencedores, aparentemente eles só vêm ganhos para toda a nação pela oferta de 4,500 MW medianos, pelo desenvolvimento de uma região marginalizada, pelo avanço da engenharia brasileira e de suas grandes empresas de construção, e, quiçá, pela melhora de vida de muitos habitantes da região.

Quem são os verdadeiros prejudicados? Quem sofrerá mais com a construção dessa hidrelétrica e com suas repercussões econômicas, sociais e ambientais?

Segundo os ambientalistas, serão o meio ambiente da região, a Amazônia e o mundo como um todo. Este sempre foi o seu discurso, um tanto genérico e ideológico, mas com apoio de muitos cientistas brasileiros.

Segundo a Igreja Católica, serão os ribeirinhos, o meio ambiente, os índios e a dignidade do governo, por ter enfiado o projeto “goela abaixo”, no dizer do Presidente Lula.

Segundo os ribeirinhos, serão eles os prejudicados, pois serão deslocados das terras que povoam, de onde retiram o sustento de suas famílias e que os mantêm com a dignidade do trabalho com suas próprias mãos e por sua própria iniciativa. Agora, se enfileirarão no rol dos dependentes do governo.

Segundo os povos indígenas, serão eles, acima de tudo, porque a alguns (Juruna e Arara do Maia) faltará água; a outros (Xikrin e Kuruaya e Xipaya da Volta Grande), haverá inundações e fim de transporte fluvial; e a todos os demais do vale do rio Xingu, pesará a ameaça da construção de novas usinas ao longo do rio.

De qualquer modo, cabe à liderança máxima brasileira mostrar magnanimidade e buscar reconciliar as partes. Quanto aos índios, a questão é ampla e vai desde aqueles que vivem no baixo Xingu até os que vivem bem acima, nos formadores do grande rio. Os índios Kayapó do médio Xingu estão com o propósito de chamar a atenção do povo brasileiro para a questão da ameaça de novas hidrelétricas no futuro próximo. Como convencê-los de que isto não será feito? Será que o Presidente Lula não teria moral para essa tarefa essencial? Será que os vencedores não saberiam como fazer isso?

Um comentário:

Patxon Metuktire disse...

From: pmetuktire@hotmail.com
To: moacirmelo@hotmail.com
Subject: RE: comentario
Date: Mon, 26 Apr 2010 15:48:49 +0000

NOS POVOS INDIGENAS KAIAPÓ ESTAMOS NOS MANIFESTANDO CONTRA ESSE EMPREENDIMENTO BELO MONTE.
O ISA QUE APOIOU A REESTRUTURAÇÃO DA FUNAI, ATÉ AGORA NAO ESTA PRESENTE JUNTO COM NÓS. O CIMI TAMBÉM NAO.

precisamos é de apoio e nao de policia para prender-nos, O presidente da funai nao é xinguano por isso esta sossegado em seu gabinete. e quem vai sofrer com o impacto sao os mebengokré e outras comunidades locais. INDENIZAÇÃO NEM PENSAR NAO PODEMOS NOS VENDER.

 
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