A poeira do leilão da Usina Belo Monte ainda não assentou. Ela
revoa inquieta nas disputas jurídicas, nas tentativas de resistência, nas
discussões dos encaminhamentos. Ainda teremos algum tempo até que todos os
aspectos dessa saga sejam conhecidos e explicados. Assim, os comentários aqui apresentados
são preliminares.
Por enquanto, o que temos são, de um lado, as lamentações e reclamações
dos perdedores, e, do outro lado, o grito de vitória dos vencedores. O grande
vencedor, ou aquele que mais gritou glorioso, foi o próprio Presidente Lula,
que, inclusive, sem magnanimidade, criticou as empresas que antes haviam
desistido do leilão e até as que ameaçaram sair do consórcio vencedor, e disse
que se for preciso as empresas estatais assumirão a tarefa. Já as empresas
vencedoras, tendo à frente a CHESF, até que se portaram com magnanimidade, convocando
novas empresas para participar do seu consórcio. Construir Belo Monte será
tarefa hercúlea e necessitará não somente de capital, como também de know-how,
expertise e experiência. O consórcio vencedor quer empresas para as quais parte
da energia lhes sirva de imediato, as chamadas auto-produtoras, como Vale e
Alcoa, que têm siderúrgicas na região.
Até o dia 23 de setembro deste ano, o consórcio vencedor
estará ajustando os ponteiros para deslanchar o processo de construção. Portanto,
tem-se aí cerca de cinco meses de trabalho preliminar, mas extremamente
importante. Já estão desde já buscando novas técnicas e estratégias para baixar
os custos de construção. Vão definir novos sócios, dividir e compartilhar
responsabilidades, constituir alianças políticas com as prefeituras e recompor
o mal-estar criado em 25 anos de controvérsias com segmentos da Igreja Católica,
ambientalistas, ribeirinhos, cidadãos de Altamira e cidades vizinhas, e, acima
de tudo, com os povos indígenas.
O que os vencedores querem é transformar essa vitória em
fato consumado, rechaçando de vez os contrários que se comportaram como
adversários ferrenhos, especialmente o Ministério Público e os fautores da
judicilização da questão, arrefecendo os protestos da opinião pública,
especialmente as Ongs ambientalistas, e apaziguando os diretamente prejudicados,
ribeirinhos e indígenas, mostrando-lhes as possíveis vantagens por uma nova
luz.
É difícil prever como essa reconciliação será realizada – se
é que venha a ser, ou se está nas mentes dos vencedores fazê-lo. Por enquanto o
que há é, da parte dos perdedores, uma tentativa de contabilizar as perdas, de
reconhecer os culpados e as estratégias erradas que resultaram na vitória dos propositores
do projeto Belo Monte. Da parte dos vencedores, aparentemente eles só vêm
ganhos para toda a nação pela oferta de 4,500 MW medianos, pelo desenvolvimento
de uma região marginalizada, pelo avanço da engenharia brasileira e de suas
grandes empresas de construção, e, quiçá, pela melhora de vida de muitos
habitantes da região.
Quem são os verdadeiros prejudicados? Quem sofrerá mais com
a construção dessa hidrelétrica e com suas repercussões econômicas, sociais e
ambientais?
Segundo os ambientalistas, serão o meio ambiente da região,
a Amazônia e o mundo como um todo. Este sempre foi o seu discurso, um tanto
genérico e ideológico, mas com apoio de muitos cientistas brasileiros.
Segundo a Igreja Católica, serão os ribeirinhos, o meio
ambiente, os índios e a dignidade do governo, por ter enfiado o projeto “goela
abaixo”, no dizer do Presidente Lula.
Segundo os ribeirinhos, serão eles os prejudicados, pois
serão deslocados das terras que povoam, de onde retiram o sustento de suas
famílias e que os mantêm com a dignidade do trabalho com suas próprias mãos e
por sua própria iniciativa. Agora, se enfileirarão no rol dos dependentes do
governo.
Segundo os povos indígenas, serão eles, acima de tudo,
porque a alguns (Juruna e Arara do Maia) faltará água; a outros (Xikrin e
Kuruaya e Xipaya da Volta Grande), haverá inundações e fim de transporte
fluvial; e a todos os demais do vale do rio Xingu, pesará a ameaça da
construção de novas usinas ao longo do rio.
De qualquer modo, cabe à liderança máxima brasileira mostrar
magnanimidade e buscar reconciliar as partes. Quanto aos índios, a questão é
ampla e vai desde aqueles que vivem no baixo Xingu até os que vivem bem acima,
nos formadores do grande rio. Os índios Kayapó do médio Xingu estão com o
propósito de chamar a atenção do povo brasileiro para a questão da ameaça de
novas hidrelétricas no futuro próximo. Como convencê-los de que isto não será
feito? Será que o Presidente Lula não teria moral para essa tarefa essencial?
Será que os vencedores não saberiam como fazer isso?
Um comentário:
From: pmetuktire@hotmail.com
To: moacirmelo@hotmail.com
Subject: RE: comentario
Date: Mon, 26 Apr 2010 15:48:49 +0000
NOS POVOS INDIGENAS KAIAPÓ ESTAMOS NOS MANIFESTANDO CONTRA ESSE EMPREENDIMENTO BELO MONTE.
O ISA QUE APOIOU A REESTRUTURAÇÃO DA FUNAI, ATÉ AGORA NAO ESTA PRESENTE JUNTO COM NÓS. O CIMI TAMBÉM NAO.
precisamos é de apoio e nao de policia para prender-nos, O presidente da funai nao é xinguano por isso esta sossegado em seu gabinete. e quem vai sofrer com o impacto sao os mebengokré e outras comunidades locais. INDENIZAÇÃO NEM PENSAR NAO PODEMOS NOS VENDER.
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