sábado, 24 de abril de 2010

Índios Kayapó avisam, prometem, ameaçam e cumprem

Se existem índios decididos e valentes nesse país são os Kayapó. Todo mundo reconhece essas qualidades nos Kayapó, não desmerecendo os demais. Aliás, entre os demais estão aqueles acampados em frente ao Ministério da Justiça protestando contra o decreto de reestruturação da Funai e a atual direção do órgão. Há três meses!

Há algumas semanas os Kayapó vinham avisando e prometendo, se não ameaçando, que, se o leilão da Usina Belo Monte fosse realizado, eles paralizariam os serviços de barca da BR-040 que atravessa o rio Xingu na altura de São José do Xingu (antes São José do Bang-Bang) e que liga o oeste do Mato Grosso à parte leste e a Goiás.

Não existe nada particularmente estratégico com essa rodovia. Mas ela é essencial para o escoamento da produção agrícola e bovina das fazendas localizadas no oeste de Mato Grosso, vindas das cidades de Alta Floresta, Colíder, Sinop, Guarantã do Norte e outras. Por isso é que, três dias de barcas paralizadas, o prejuízo dos frigoríficos é crescente.

Os Kayapó querem que uma autoridade de peso venha conversar com eles. Pensam no ex-ministro Edson Lobão, que saiu para se candidatar a senador pelo Maranhão, e que é responsável pela frase que mais perturbou os Kayapó nos últimos meses: de que eles, ou alguém estranho, representaria um espírito maligno contra Belo Monte. Os Kayapó assumiram essa acusação, já que nenhuma Ong ambientalista o fez, ignorou o opróbio, nem o Ministério Público, que se fez de mouco.

Os Kayapó são os últimos resistentes ao projeto Belo Monte. Os mais leais aos seus ideais e sua visão de mundo. Querem uma explicação maior. Não confiam mais no Presidente Lula, muito menos no atual presidente da Funai. Aliás, deste eles querem distância e sua saída do órgão. Há uns meses ele havia sussurrado para Raoni que não iria aprovar, como presidente da Funai, o licenciamento de Belo Monte, mas foi o primeiro a fazê-lo, o que permitiu o licenciamento final dado pelo Ibama. Daí a mágoa e a raiva dos Kayapó. As Ongs que o apoiam também enfiaram a viola no saco e não falam nada.

Os Kayapó também foram abandonados pelas Ongs ambientalistas que tanta corda lhes deram anteriormente para protestar contra Belo Monte. Agora essas Ongs estão concentradas na ilusão judicialista, achando que pelas medidas cautelares, embargos, etc., vão fazer a roda política voltar atrás. Eles sabem que isso não vai acontecer e apenas deixam que os outros se iludam com isso.

E o CIMI, o bispo Krautler, o que farão agora? Irão ao encontro e ao apoio dos Kayapó?

E os indigenistas, os antropólogos, os amigos dos Kayapó, que estão fazendo para ajudá-los nessa hora? Querem o seu sacrifício, ou acham que podem entabular um novo diálogo que os insira no processo de desenvolvimento da Amazônia.

Eu proponho um novo diálogo, uma nova visão da questão indígena e o desenvolvimento da Amazônia. Esse  Blog se abre para sugestões de boa fé e de criatividade.

3 comentários:

Moacir Melo disse...

Prezado Dr. Mercio, apoio integralmente suas palavras pois tenho acompanhado tudo isso de perto junto ao povo Mebêngôkré, e reafirmo sua veracidade!
No momento, os familiares de Megaron estão recolhidos, em respeito ao seu período de luto, mas conservam dentro de si, também, o amargor, revolta e ira em relação à Belo Monte.
Abraços,
Moacir Melo
Indigenista

Guilherme disse...

Ninguém está sozinho Mércio, somente os que não tem amigos.
Os índios Kayapó, Mebengokré, têm mais que isso, eles tem ao seu lado indigenistas, não simplesmente os que se declaram ou os que dizem trabalhar com índios, mas os que vivem.
Ongs são previsíveis pois recebem para isso; CIMI é previsível pois ganha para isso - são subservientes aos interesses dos que lhes alimentam de dinheiros e de "liberdade";
Os Governos da mesma forma, da mesma maneira...

Matudjo Metuktire disse...

Nós indigenas da aldeia piaraçu estamos protestando contra a construção da usina belo monte, que o governo está fazendo contra os povos indigena na bacia do rio xingu no municipio de altamira, nós indigena mebengokre do estado de mato de grosso, na aldeia piaraçu, estamos muito revoltado com presidente Lula, estamos bloqueiando a atravessia do veiculos na Balsa, por motivo de Presidente da Funai Marcio Meira assinar no decreto que libera a construção da usina belo monte.Vão está bloqueiando até que um representante da funai ou proprio presidente vem chegar até aqui na aldeia Piaraçu, onde estamos protestando.

Matudjo Metuktire
Guerreiro/Piaraçu

 
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