Ontem o presidente Lula assinou o Decreto 7.056 pelo qual
reestrutura a Fundação Nacional do Índio. O decreto saiu publicado hoje e
estourou que nem uma bomba no meio indigenista.
Ao contrário do que foi alardeado pelo atual presidente da
Funai, a reestruturação se apresenta como um retrocesso ao indigenismo
brasileiro, que estará fazendo 100 anos em 2010.
Em primeiro lugar, ficam extintos todos os postos indígenas
do Brasil. Os postos indígenas constituem a estrutura mínima que está presente
e atuante nas aldeias indígenas. Muitos deles são formados por apenas um chefe
de posto, que se desdobra para manter o contato, o relacionamento, a proteção e
a assistência mínima aos índios que vivem exclusivamente nas aldeias. Os postos
indígenas sempre foram a ponta do indigenismo brasileiro. São eles que dão
suporte imediato às demandas mais corriqueiras e também as mais urgentes das
aldeias indígenas. Quase todos os postos indígenas estavam localizados nas
próprias aldeias indígenas, ou perto delas, sem interferir em sua vida
cotidiana. Alguns deles já eram mais que centenares, pois, ou foram criados por
Rondon, ou vêm ainda desde o Império.
Essa extinção vai dar o que falar e os índios vão sentir
terrivelmente esse baque.
A estrutura da Funai-sede em Brasília sofreu algumas
modificações negativas. Foi extinta a Coordenação-geral que cuidava do
incentivo à produção de artesanato indígena, um dos pilares econômicos de
muitos povos indígenas. Essa coordenação incentivava essa produção pela compra
do artesanato por preços bastante razoáveis, se não justos, o que fazia com que
o mercado para esses produtos favorecesse economicamente a produção indígena.
Agora os artesãos indígenas ficaram à mercê do mercado.
Outra modificação foi a extinção da Coordenação-geral de Estudos
e Pesquisas, que acumulava as funções de intermediar estudos etnológicos de
antropólogos, contatando as populações indígenas para obter permissão de
visitas de estudiosos, e de publicação de textos oriundos desses estudos. Agora
tudo isso será feito no Museu do Índios, no Rio de Janeiro, longe do contato
com os índios e do burburinho da Funai. Como a atual direção do Museu do Índio,
junto com a Funai, tem segundas intenções de retirar o Museu do Índio do âmbito
da Funai, o distanciamento entre pesquisas, interesses do órgão e os índios vai
ficar cada vez maior.
No mais, a presidência da Funai agora acumula uma série de
DAS como assessores pessoais, e alguns nomes de algumas coordenações gerais e
de diretorias, foram mudadas. Nada substantivo. A criação de uma diretoria colegiada formada pelo presidente e os três diretores, com voto qualificado do presidente, é uma filigrana burocrática sem qualquer sentido digno de nota. Igualmente um certo Comitê Regional, a ser formado pelos coordenadores regionais que devem se reunir uma vez por semestre para debater seus problemas, não passa de assembleismo tolo.
Junto com a extinção dos postos indígenas, vieram extinções
de diversas administrações regionais da Funai, algumas tradicionais, outras
criadas mais recentemente. A lógica por trás dessas mudanças escapa ao senso
deste que vos escreve, a não ser o interesse em manter algumas prerrogativas de
amigos.
Foram extintas as administrações regionais de:
No Nordeste:
1. Recife, que serve aos índios Xukuru, Fulniô, Kampinawá,
Atikum, Pankararu e outros do estado de Pernambuco.
2. João Pessoa, que serve aos Potiguara da Baía da Traição.
3. São Luís, que assiste aos Guajajara, Guajá, Urubu-Kaapor,
Timbira e outros.
4. Kanela, na cidade de Barra do Corda, que serve aos Canela
Ramkokamekra e Apanyekra.
5. Barra do Corda, que serve aos Guajajara.
6. Porto Seguro ou Ilhéus, que serve aos Pataxó e aos Pataxó
Hãhãhãe, respectivamente.
Supostamente esses povos indígenas vão passar a ser
assistidos por, respectivamente, Fortaleza
(Recife e João Pessoa), a qual não tem nenhuma tradição indigenista e foi
criada por esse decreto; Imperatriz,
no Maranhão, que também cuidará dos extintos núcleos localizados em Barra do
Corda; e Ilhéus ou Porto Seguro que
passará a assistir aos Pataxó da região de Porto Seguro.
Prevê-se insatisfação geral entre os índios Potiguara,
Fulniô, Atikum, Kapinawa, Guajajara, Guajá, Urubu-Kaapor, Canela, Timbira e
Pataxó.
Ficaram as administrações regionais de Paulo Afonso, que
cuida dos povos indígenas do rio São Francisco, e Maceió, que assiste aos
índios daquele estado e de Sergipe.
A extinção de Recife, São Luís e João Pessoa estarrece a
todos, sobretudo pela tradição as duas primeiras, mas também por servir a mais
de 50.000 índios.
Na Amazônia Oriental e Setentrional, foram extintas as
seguintes administrações:
7. Oiapoque, no Amapá, onde há uma grande concentração de
índios na fronteira com a Guiana Francesa. Ficará sob a responsabilidade de
Macapá.
8. Parintins, no Amazonas, que provavelmente vai depender de
Manaus.
9. Altamira, no Pará, que, por conta do rebuliço que haverá
com a construção da Usina de Belo Monte, ficará ao deus-dará. Com a ausência de
uma administração, os povos indígenas que lá habitam – Xikrin, Parakanã, Arara,
Araweté, Juruna, Xipaya e Kuruaya – poderão ser assistidos pela AER mais
próxima, talvez Manaus, a 1.000 km de distância, ou Marabá, a 1.100.
10. Redenção, no Pará, que provavelmente vai se contentar
com a Administração de Tucumã, ambas para índios Kayapó do Pará.
Na Amazônia Ocidental, foi extinto o Núcleo de Apoio de
Vilhena (11), em Rondônia, que serve os índios Nambiquara, e as demais
administrações ou núcleos de apoio tiveram seus nomes mudados.
No Centro-Oeste, foram extintos, entre núcleos e
administrações:
12. São Felix do Araguaia, que serve aos índios Karajá, da
Ilha de Bananal.
13. Água Boa, que serve aos Xavante de Pimentel Barbosa.
14. Xavantina, que serve aos Xavante de Parabubure.
15. Campinápolis que serve aos Xavante de Obawawe e
Parabubure
16. Primavera do Leste, que serve aos Xavante de Ronuro e
Sangradouro.
17. Tangará da Serra, que assiste aos Pareci, Irantxé,
Nambiquara.
18. Rondonópolis, que assiste aos Bororo.
19. Goiânia, uma das mais ativas administrações, que atendia
aos Xavante, Tapuio e Avá-Canoeiro.
20. Araguaína, em Tocantins, que atendia aos Krahô, Xambioá
e Apinajé.
21. Gurupi, que atendia aos Karajá, Javaé, Atikum e Xerente.
No Sudeste e Sul, foram extintas:
22. Guarapuava, no Paraná, que serve aos Kaingang
23. Londrina, no Paraná, que serve aos Kaingang e Guarani
24. Curitiba, que serve aos Xokleng, Kaingang e Guarani
(25). Paranaguá, que serve aos Guarani do litoral,
provavelmente a nova sede da nova Administração do Litoral Sul.
Portanto, foram 24 administrações regionais e núcleos de
apoio extintos de uma só canetada.
Prevê-se que haverá protestos da parte dos povos indígenas e
dos indigenistas de todas essas partes excluídas da estrutura da Funai. Fica
evidente porque foi mantido tanto segredo sobre essa reestruturação. Ninguém da
Funai sabe quem participou desse estratagema. Tampouco os representantes
indígenas da CNPI foram informados sobre o teor dessa reestruturação. Alguns
devem estar se arrependendo amargamente de ter participado da reunião que
aprovou essa reestruturação sem vê-la.
Por seu lado, o atual presidente da Funai fez muito alarde
sobre a contratação até o ano de 2012 de 3.100 novos funcionários para a Funai.
Entretanto, tal proposta não está contida no Decreto presidencial nº 7.056
publicado no DOU de hoje. Ela vale tanto quanto a sua palavra, não mais.
Portanto, o resultado da reestruturação é esse que aí está.
Dizer que isso é bom para a Funai e para o indigenismo, e que nesse segundo
mandato o presidente Lula está fazendo o que não fez no primeiro – é brincar
com a graça alheia.
A sorte está lançada. O indigenismo rondoniano está na alça
de mira. Agora é esperar como isso será aplicado e qual será a reação dos atingidos.
5 comentários:
Ver reprodução desta matéria em
www.aguaboanews.com.br
Sobre o que penso, leiam:
www.parlaventos.blogspot.com
absurdo
DE MANEIRA SORRATEIRA, COVARDE E ESTRATÉGICA LANÇARAM ESTA BOMBA PARA OS INDÍGENAS, ASSIM COMO PARA OS SERVIDORES DA FUNAI.
POR ISSO TANTO SEGREDO NÃO É SR. MÁRCIO MEIRA? COMO DEVEMOS CHAMÁ-LO? TRAIDOR? SACANA? SEM PALAVRA?
E O NOSSO COMPANHEIRO "LULA" COMO PÔDE ASSINAR UM DECRETO DESTA QUALIDADE? SERÁ QUE O LEU?
COMO É QUE O SR. PRESIDENTE "LULA" ASSINA UM DESPARATE DESTES? O SENHOR DEIXOU DE SER NORDSTINO SENHOR PRESIDENTE?
SÓ SENTIMOS TRISTEZA E REPULSA POR TUDO ISSO.
Estimado Anônimo,
Você pode qualificar o senhor márcio meira das três formas e quero acrescentar o adjetivo CANALHÃO, que pode ser estendido aos outros canalhões do isa e cti que estão surrupiando a funai.
Essa é a verdade e eles sabem disso. Mas como bons CANALHÕES fazem cara de songo mongo como se não fosse nada om eles.
Abração!
Renan Mathias
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