sábado, 28 de maio de 2011

Seminário sobre terras indígenas serve para detratar os índios


Por iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reuniram-se em Dourados, cidade-drama da questão indígena brasileira, diversas autoridades importantes para discutir o problema da falta de terras dos índios do Mato Grosso do Sul, estado-drama da questão indígena brasileira, em especial, os Guarani e os Terena. A tragédia desses índios os tem atormentado há anos, mas agora parece que está todo mundo preocupado. E não faltam razões, principalmente porque os índios estão dispostos ao auto-sacrifício para obter um mínimo de segurança territorial para sobreviver. E estão partindo para o tudo ou nada. Assim, a iniciativa parecia promissora. Estavam presentes o governador do Estado, André Pulcinelli, alcunhado pelos jornais que transmitiram o evento de "Andrezão", parece que pelo seu jeitão desaforado e sem papas na língua de falar grosseiramente contra seus adversários, inclusive, e em especial, a Funai. Presentes também o advogado geral da União, Luiz Inácio Adams, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel a corregedora do CNJ, desembargadora Eliana Calmon, representantes das entidades ruralistas, representantes indígenas, o atual presidente da Funai, advogados e procuradores locais, o historiador indigenista Antonio Brand, enfim, uma penca de figuras públicas que se arvoram com conhecimento da causa a ser debatida.

De cara, no primeiro dia, o governador "Andrezão" deu o tom de como queria que o seminário se desenvolvesse ao partir para o ataque contra os povos indígenas e contra a Funai. Esculhambar é um verbo afeminado para o que disse e provocou o governador sobre a Funai, olhando de frente para o impávido presidente do órgão. Até fazendo gracinhas (perguntando: Você sabe como se diz, "como vai, patrício?" em guarani, ao embaraçado presidente). Em dado momento de sua verborréia, foi um índio Guarani, de lá do meio da platéia, que não aguentou os desaforos do governador, sobretudo quando estava falando da terra indígena Panambizinho, e gritou um "mentiroso!" para o governador, que de pronto rebateu, "mentiroso é o senhor" e ficou tudo por isso mesmo!

Alguém mais defendeu esse corajoso índio que ousou rebater os desaforos do governador? Parece que não, nem o presidente da Funai, nem os antropólogos e procuradores presentes. Que tem o Andrezão de tão poderoso que todos, ou quase todos, se calam diante de suas diatribes?

O fato é que a fala do governador abriu caminho para os representantes dos fazendeiros puxarem suas ladainhas de perseguidos pela Funai e espinafradores dos índios. Um tanto constrangida, a desembargadora Eliana Calmon bem que tentou colocar alguma racionalidade na discussão e optou por se posicionar num muro bem alto, dizendo que só se cada um abrir mão de suas posições mais ferrenhas é que as coisas poderiam ser resolvidas.

Hoje, sábado, dia 28 de maio, os participantes desse seminário estariam visitando algumas terras indígenas da região, especialmente a Terra Indígena Dourados, incrustrada nos limites da cidade, com uma população de 12.000 índios, com apenas 3.450 hectares, dos quais mais de 1.500 destes estão arrendados ou sendo disfarçadamente arrendados para não indígenas. Nessa terra indígena impõe-se o maior índice de suicídio no Brasil, uma altíssima mortalidade infantil e conflitos de todas as sortes. O governador Andrezão exige que a Funai deixe que os policiais civis e militares entrem como quiserem nessa terra indígena para resolver os conflitos internos, já que a Funai não consegue mais cuidar da segurança interna dos índios ali residentes. Vocifera também o ínclito governador que ele faz e acontece nessa terra indígena, dá comida e dá escolas, dá Ginásio Olímpico, e a Funai não dá nada.

Arre, mais um seminário sem solução para os Guarani e Terena.

PS
Um sinal terrível do atual desprestígio da Funai, observado por diversos jornalistas locais, é que o atual presidente da Funai não fez parte da mesa de abertura, tendo ficado no meio da platéia, sem direito a dizer nada. Logo ele, que deve ser o defensor e o expoente maior do Estado brasileiro sobre a questão indígena! Tudo indica que ele entrou mudo e saiu calado deste seminário. Também é lamentável que nenhum índio tenha falado, nem nenhuma associação indígena tenha sido convidada a participar. Tudo assoma a retrocesso político, infelizmente.

4 comentários:

Anônimo disse...

Desprestígio ou não, quem ganha com a ausência do Gen. Custer Meira são os índios. Todos os atos do presidente da Funai são em prejuízo aos Povos !!!! Isso ele já provou desde que assumiu.

A propósito: alguma alma indigenista manifestou-se com a imposição do Novo Código Florestal?

Anônimo disse...

O Andrezão não é só "desaforado" quanto trata das ditas autoridades da república, é desaforado quando, em conluio com os sócios-financiadores de campanha, diz em solenidade da Polícia Militar para os gorilas entrarem em Terra Indígena, constatada em laudo e na memória dos avós, "com ou sem imprensa", chutando portas e descendo o sarrafo para usurpar novamente aquilo que nunca lhes pertenceu.

A atitude de desprezo diante das famílias indígenas que lutam - há quantos séculos?! - por seus direitos, em especial, a proteção territorial, é um retrato da mentalidade genocida da agroindústria que o elegeu (ideologia desenvolvida com capital estrangeiro e igual desprezo às leis pátrias).

Márcio Meira, assim como Rilder e Guapindaia, é um covarde: quando viu a passeata do AIR se aproximar da sede da Funai em maio de 2010, mandou esvaziar o prédio e fugiu pela porta de trás - deixando a Bastilha livre para ser tomada (a Bastilha foi efetivamente tomada, o que aconteceu nas horas seguintes a história ainda irá desvendar).

Meira nunca compareceu a nenhuma audiência pública ou solenidade onde pudesse ser questionado, nunca respondeu às principais denúncias e só viaja à Terra Indígena e participa de eventos onde o ISA e Ongs Parceiras consolidam a sua unanimidade, não participa de nada onde possam lhe interpelar (em homenagem aos Maxakalí, com presença de Gil, no Museu do Índio do RJ, ficou branco como cera quando viu dois militantes do AIR e apoiadores, quatro no total, se aproximarem com uma câmera - imaginava, talvez enxergando equivocadamente seus adversários como "iguais", que os apoiadores do AIR teriam o estofo moral das tristes assessoras do então Ministro da Justiça, Barreto, Gláucia, Ana Patrícia e Terezinha, as Três Cajazeiras Histéricas a serviço da Injustiça, do Terrorismo Policial e do Genocídio de Estado, não respeitando a dignidade das lutas das etnias brasileiras nem a solenidade do momento, estragando a cerimônia em que se celebrava a língua de tronco Jê, tão duramente resgatada; em respeito aos Maxacalí, obviamente, não foi feito nenhum questionamento público aos presentes, a câmera se limitando a registrar as lorotas de Meira e Francheto para depois expor a contradição com o mundo real).

Talvez Meira, mesmo sabendo da indisposição contra a Funai no MS, pensasse que se sentiria à vontade com um governador da agroindústria do calibre de Pulcinelli, pois a sua gestão é dedicada a atender interesses de indivíduos como esse, mas, com grande Justiça Poética, "quebrou a cara" (indivíduos menores tendem a cometer equívocos maiores).

Covarde, aquele que seria o expoente maior do indigenismo estatal e supostamente o protetor maior das etnias originárias, Meira não teve peito sequer para defender o pobre Guarani que se levantou do meio da platéia para chamar o governador de "mentiroso", como irá defender Povos Indígenas Brasileiros do Genocídio em curso promovido por Agroindústria, Mineradoras, Madereiras, Mega-Consórcios Empreiteiros, entre outros largos interesses protegidos pelo governo do PAC?

Anônimo disse...

covarde? O general cluster e mais do que covarde. já tá na hora de ir para casa. fora cluster e assassinos de indios.

Anônimo disse...

Para colocar o "General Cluster" para fora precisaremos mais do que palavras, companheiro, precisamos reorganizar a luta, chamar os companheiros, aparar as arestas, levantar a cabeça e trazer o jenipapo para seguir do momento em que tudo parou.

Abs

 
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