Rondon e o velho Chefe Bororo Cadete, no velho Museu do Índio, em 1952
A grande notícia comemorativa dessa semana é a declaração do Gov.
Sérgio Cabral de que o velho e glorioso Museu do índio, localizado ao
lado do Estádio Maracanã, não será mais demolido. O governador assume
que aquele prédio pertence ao estado do Rio de Janeiro, havido por
compra à Conab, em novembro de 2012, por R$ 60 milhões. Ninguém ainda
viu o ato oficial dessa compra, mas se acata que o estado não estaria
faltando com a verdade.
Na nota oficial do governo consta que o
prédio será restaurado pela empresa que venceu a licitação de reformar o
Maracanã e que sua destinação será decidida de comum acordo com o
prefeito Eduardo Paes. Afirma outrossim que tudo isso será feito logo
que os “invasores” sejam retirados do recinto do prédio.
Como
assim, em comum acordo com Paes e sem o diálogo e a consulta aos índios
que habitam esse prédio, que do retomaram e que o reivindicam? Chamá-los
agora de “invasores”?
Aí é que a porca torce o rabo e o governador fica embananado.
No
dia 16 de janeiro o governador enviou uma carta aos índios da Aldeia
Maracanã -- que é o nome que os índios moradores do prédio dão muito
apropriadamente à organização social que lá criaram desde 2006 – na qual
reconhece a organização social dos índios no recinto deste velho Museu
do Índio, reconhece-a inclusive com a expressão “comunidade indígena que
reside no antigo Museu do Índio”. A carta subscrita pelo governador
propõe, além da criação de um Conselho Estadual de Direitos Indígenas, a
dotação à comunidade Aldeia Maracanã de um prédio, situado nas
imediações da Quinta da Boa Vista, em troca da saída dos moradores
indígenas do velho Museu. O prédio aludido é um antigo presídio. Bela
troca, hein governador! A palavra presídio causa calafrios a todos nós,
muito mais aos índios, que já sofreram o bastante em sua história de
relacionamento com invasores de suas terras!
A nota oficial
espanta por ignorar um fato que o governador já havia reconhecido, qual
seja, de que é uma comunidade indígena que reside no antigo Museu do
Índio, e não “invasores”. Onde está a assessoria do Gov. Sérgio Cabral
para deixá-lo em tão maus lençóis? Será que não imaginou que sua carta
eventualmente se tornaria pública, bem como a resposta que os índios a
ela darão?
De todo modo, essas cartas constituem o início de um
diálogo novo entre as duas partes, agora em condições mais favoráveis
aos índios, já que a ameaça explícita e raivosa de destruição do antigo
Museu do Índio foi eliminada.
A sociedade carioca que acompanha e
apóia a ação dos índios da Aldeia Maracanã sabe que esse majestoso
prédio do antigo Museu do Índio só está sendo reconhecido em seu valor
histórico e portanto salvado da destruição por causa exclusiva da
intervenção dos índios que vivem no Rio de Janeiro, por sua ousada
entrada no prédio em 2006, por sua inimaginada retomada física, social e
cultural, por sua resistência inabalável às tentativas de todas as
sortes – não menos à tropa de choque enviada pelo governador em 12 de
janeiro deste ano – para desalojá-los e enviá-los para os cafundós dos
Judas.
Como agora o governador querer outra destinação deste
prédio, senão a proposta dos índios de criação de um Centro Cultural
Indígena, sob sua direção autônoma e compartilhada, proposta aliás que o
próprio governador reconheceu em sua referida carta aos índios!?
Assim,
comemoramos esta semana a declaração oficial do governador,
subentendendo-se que sua incoerente alusão a “providências que estão
sendo tomadas para a remoção de invasores” não passe de um lapso
declaratório, um desvio intempestivo, um erro de copidescagem de seus
assessores imprudentes.
A sorte está lançada. Algo de novo surge
no horizonte das relações interétnicas no Brasil, e surge logo no Rio de
Janeiro, que não tem medo de experimentar as coisas novas.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
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