Já se foi o ano 2011, o ano que culminou o retrocesso da política indigenista brasileira.
O ANO 2012 começa com força. Será um ano crucial para os povos indígenas, ameaçados por decisões espúrias, por joguinhos de poder, por manipulações, pelo descaso que tomou conta do governo e da Funai para com as sociedades indígenas, suas terras e seu destino na Terra.
O ANO 2011 começa com um Manifesto Indígena para a Recomposição das Relações entre Índios e o Estado brasileiro.
É o que eu estou chamando.
Porém os assinantes desse Manifesto chamam-no simplementes de PROPOSTA de TRABALHO para a PRÓXIMA DIREÇÃO da FUNAI.
Que seja.
Mas leiam com atenção especial o que diz essa PROPOSTA-Manifesto, escrito por alguns dos mais conceituados intelectuais e profissionais indígenas, todos com extensa experiência na militância indígena.
A PROPOSTA está circulando na internet e pelas comunidades indígenas Brasil a fora. Tem jeito de que vai ganhar adeptos entre indigenistas, antropólogos e simpatizantes da causa indígena. Tem jeito de que vai levantar os índios!
A PROPOSTA quer que o Governo Dilma Rousseff, e mais ainda, o Estado brasileiro, mude sua relação com os povos indígenas. Quer que os índios participem do progresso brasileiro, defendendo suas terras, suas riquezas naturais, suas culturas, mas que não fiquem a reboque de decisões sem consultas às comunidades indígenas.
Mas não é só consultas que querem. Querem participar de decisões sobre o desenvolvimento em áreas que afetem suas vidas, na Amazônia e por todo o Brasil.
Querem participar inclusive com seu capital histórico de primeiros habitantes do país, de seus nativos e autóctones, como seus donos prístinos.
Querem e vão obter. A História os redimirá, tenho certeza disso.
Por que o Governo Dilma não convoca os índios para conversar numa mesa de negociações?
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PROPOSTA DE TRABALHO PARA A PRÓXIMA DIREÇÃO DA FUNAI:
A
presente proposta foi elaborada pelos técnicos indígenas listados a seguir e
apoiada por muitas lideranças indígenas de raiz e Organizações indígenas
tradicionais:
-Escrawen Sompré – Povo Indígena
Xerente/TO, Engenheiro Florestal, especialista em Gestão Ambiental e
Ordenamento territorial;
-Wilson Mattos da Silva – Povo Indígena Kaiwoá/Terena/MS, Advogado Criminalista,
especialista em Direito Constitucional
-Azelene Kaingáng – Povo Indígena Kaingáng/SC, Socióloga, Mestranda em
Políticas Sociais;
-Ubiratan de Souza Maia – Povo Indígena Wapichana/RR, Advogado;
-Jeremias
Xavante –
Parlamentar Indígena Xavante/MT;
A Fundação
Nacional do Índio, após sua reestruturação através da edição do Decreto 7.056
de 29 de dezembro de 2009, passou por profundas mudanças institucionais e
conceituais que desencadearam a necessidade de redefinir a relação do Estado
Brasileiro com os Povos Indígenas. Foram mudanças surpreendentemente negativas
e que vigoram até hoje. Em primeiro lugar, o Decreto foi imposto de cima para
baixo, sem nenhuma consulta aos índios, algo que chocou a todos. O Decreto
extinguiu todos os postos indígenas e diversas unidades administrativas
estratégicas para os povos indígenas, tais como, Altamira, onde se constrói a
UHE Belo Monte, Oiapoque, na fronteira com a Guiana, Porto Velho, onde se
constroem as Usinas Santo Antonio e Jirau, Recife, Curitiba, São Luís, Goiânia
e dez outras mais. O Decreto, enfim, paralisou a FUNAI, o atendimento aos povos
indígenas e fragilizou a segurança das terras indígenas. Não é surpresa que
tantas delas estejam invadidas por fazendeiros e posseiros de toda sorte, além
de madeireiros e outros aproveitadores.
Tal quadro
revela a urgente obrigação dos Povos Indígenas do Brasil e do Estado brasileiro
em procurar conciliar seus interesses, a fim de que se possa definitivamente
efetivar o desenvolvimento sem conflitos, onde índios, Estado e empreendedores
possam estabelecer um diálogo negociador, em observação ao disposto no artigo
6º da Convenção 169/OIT, que não é nada mais do que ambos entrarem em acordo.
Que fique
bem claro: os índios não estão contra o progresso brasileiro. O que tem
ocorrido atualmente é que algumas organizações indigenistas e ambientalistas
têm se aproveitado do fato de que o Estado não estabeleceu este diálogo com os
Povos Indígenas para afirmarem, em nome dos índios, que estes são contrários ao
estabelecimento de obras importantes do PAC em territórios indígenas, quando na
verdade os Povos Indígenas querem apenas ser parte no processo de
desenvolvimento e não ficarem a margem como sempre estiveram.
Neste
sentido, as compensações e indenizações oriundas dos empreendimentos em
territórios indígenas podem e devem ser aplicadas em programas e projetos que
ajudem os Povos Indígenas a saírem da subsistência e sobrevivência e passarem
para a conquista definitiva de sua autonomia com qualidade de vida. Não existe
outra alternativa: ou se investe no desenvolvimento econômico dos territórios,
com o aproveitamento de seus recursos naturais, criando cooperativas agrícolas
e minerárias indígenas e de outras categorias, de acordo com as especificidades
e grau de contato de cada Povo Indígena, e com o consentimento prévio dos
mesmos, ou a miséria e a pobreza extrema que afetam a maioria dos Povos
Indígenas deverão se aprofundar cada vez mais nas próximas décadas.
Assim sendo,
técnicos Indígenas e líderes de raiz dos Povos Indígenas Kayapó, Xavante,
Gavião, Kaingáng, Wapichana, Pareci e Xucuru, preocupados com a atual situação
da FUNAI, que já não dá conta de fazer a interlocução dos Povos Indígenas com o
governo, propõe nesse momento políticas sociais, medidas e parcerias inclusive
com estados e municípios, no sentido de construir a seguinte agenda de
trabalho:
1-
Que as demarcações em curso se finalizem, e pelos próximos cinco anos
se avalie e se proponha, com a participação plena dos Povos Indígenas, uma nova
política de regularização e garantias territoriais;
2-
Que o orçamento do Governo federal para as comunidades indígenas seja
reforçado a fim de garantir a estruturação dos territórios e a organização das
comunidades em cooperativas indígenas para impulsarem o desenvolvimento
econômico dos Povos Indígenas;
3-
Que sejam reativadas as Unidades da FUNAI em Recife, Curitiba, Altamira
e outras que são estratégicas para que o governo esteja mais próximo às
comunidades indígenas com unidades gestoras;
4-
Reformular e propor programas de acesso e permanência de estudantes
indígenas em Universidades;
5-
Que se regulamente o artigo 6º da Convenção 169 da OIT;
6-
Que se convoque a 2ª Conferência Nacional de Política Indigenista.
Esperamos o
apoio de autoridades, amigos e simpatizantes da causa indígena que nos ajudem
sensibilizar o governo da Presidenta Dilma Rousseff. Precisamos levar nossa causa
aos Ministérios da Justiça e da Casa Civil a fim de que, como técnicos e
líderes indígenas de raiz, possamos levar esta proposta ao governo federal.