sexta-feira, 25 de março de 2011

Carta aberta de Dom Erwin Krautler contra Belo Monte

Em carta simples e direta, o bispo de Altamira, Dom Erwin Krautler, presidente do CIMI (que apoia a atual direção da Funai) promete continuar a luta contra a construção da Usina Belo Monte. Tece seus argumentos e demonstra com palavras incisivas a desfaçatez do governo Lula ao recebê-lo por duas vezes, e agora, do novo governo Dilma, por receber uma comitiva de índios e ribeirinhos -- e nada fazer para atender aos reclamos da população e parar Belo Monte.

Recentemente Dom Erwin pediu audiência com a presidente Dilma, na esperança de persuadi-la a mudar de opinião (!), porém ela indicou o ministro Gilberto Carvalho para recebê-lo. O bispo declinou, já que esse ministro nem respondeu à carta que o movimento anti-Belo Monte lhe escreveu sobre o assunto.

Dom Erwin, ao final da carta, diz que não abre mão de lutar pelo fim de Belo Monte. Muita coragem e determinação em suas palavras. Porém, há de se convir, ele está presenciando, nesse momento, em Altamira, a chegada dos imensos, gigantescos caminhões, tratores, pilhas e pilhas de explosivos, para abrir o canteiro de obras da usina. O dinheiro está rolando descaradamente pela cidade na captação do apoio e simpatia da população, inclusive indígena, para aceitar ou ao menos acatar a monstruosa usina.

Que poderá fazer a mais, o nosso bispo, do que já fez em matéria de protestos, de encaminhamentos às autoridades brasileiras e aos amigos internacionais, às ONGs e às Igrejas europeias?

Até Raoni, infelizmente, aceitou hoje um convite para conversar com a atual direção da Funai, essa mesma que assinou a licença antes mesmo do Ibama e que já se declarou a favor de Belo Monte!

Que protestos a mais poderá haver? Schwarzenegger, Cameron? O filme Avatar como representação da resistência ao capitalismo do mal? Ah, não!

Me pergunto tudo isso porque estou vendo a realidade se movendo em direção à construção dessa usina, tal como a ditadura militar abriu a Transamazônica, à revelia dos paraenses e da esquerda brasileira. Tal como estão construindo os canais de transposição da água do rio São Francisco, à revelia do bispo de Cabrobó.

A ironia é que ultimamente têm sido governos de esquerda que estão abrindo desbragadamente a Amazônia ao capitalismo brasileiro e mundial. Um capitalismo que nem ao menos consulta os interesses dos moradores da Amazônia, e um governo que se mostra infiel às suas leis, como a Convenção 169 e o Estatuto do Índio.

Alô, alô, presidente Dilma Roussef!

Darcy Ribeiro, nosso amigo comum, a quem a Sra. tanto cita com admiração e respeito, não gostaria de ver que o desenvolvimento da Amazônia fosse feito à custa do sofrimento e da destruição dos povos indígenas!

Honre essa amizade! Abra um diálogo com a população para explicar o que pretende com tudo isso!

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BELO MONTE: O DIÁLOGO QUE NÃO HOUVE
Carta aberta à Opinião Pública Nacional e Internacional

Venho mais uma vez manifestar-me publicamente em relação ao projeto do Governo Federal de construir a Usina Hidrelétrica Belo Monte cujas consequências irreversíveis atingirão especialmente os municípios paraenses de Altamira, Anapu, Brasil Novo, Porto de Moz, Senador José Porfírio, Vitória do Xingu e os povos indígenas da região.
         Como Bispo do Xingu e presidente do Cimi, solicitei uma audiência com a Presidente Dilma Rousseff para apresentar-lhe, à viva voz, nossas preocupações, questionamentos e todos os motivos que corroboram nossa posição contra Belo Monte. Lamento profundamente não ter sido recebido.
Diferentemente do que foi solicitado, o Governo me propôs um encontro com o Ministro de Estado da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. No entanto, o Senhor Ministro declarou na última quarta-feira, 16 de março, em Brasília, diante de mais de uma centena de lideranças sociais e eclesiais, participantes de um Simpósio Sobre Mudanças Climáticas que “há no governo uma convicção firmada e fundada que tem que haver Belo Monte, que é possível, que é viável... Então, eu não vou dizer prá Dilma não fazer Belo Monte, porque eu acho que Belo Monte vai ter que ser construída”.
Esse posicionamento evidencia mais uma vez que ao Governo só interessa comunicar-nos as decisões tomadas, negando-nos qualquer diálogo aberto e substancial. Assim, uma reunião com o Ministro de Estado Gilberto Carvalho não faz nenhum sentido, razão pela qual resolvi declinar do convite.
Nestes últimos anos não medimos esforços para estabelecer um canal de diálogo com o Governo brasileiro acerca deste projeto. Infelizmente, constatamos que esse almejado diálogo foi inviabilizado já desde o início. As duas audiências realizadas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 19 de março e 22 de julho de 2009, não passaram de formalidades. Na segunda audiência, o ex-presidente nos prometeu que os representantes do setor energético, com brevidade, apresentariam uma resposta aos bem fundamentados questionamentos técnicos feitos à obra pelo Dr. Célio Bermann, professor do curso de pós-graduação em energia do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo. Essa resposta nunca foi dada, como também nunca foram levados em conta os argumentos técnicos contidos na Nota Pública do Painel de Especialistas, composto por 40 cientistas, pesquisadores e professores universitários.
Observamos, pelo contrário, na sequência a essas audiências, que técnicos do Ibama reclamaram estar sob pressão política para concluir com maior rapidez os seus pareceres e emitir a Licença Prévia para a construção da usina. Tais pressões políticas são de conhecimento público e motivaram, inclusive, a demissão de diversos diretores e presidentes do órgão ambiental oficial. Em seguida, foi concedida uma "Licença Específica", não prevista na legislação ambiental brasileira, para a instalação do canteiro de obras.
No dia 8 de fevereiro de 2011, povos indígenas, ribeirinhos, pequenos agricultores e representantes de diversas organizações da sociedade realizaram uma manifestação pública em frente ao Palácio do Planalto. Na ocasião, foi entregue um abaixo-assinado contrário à obra, contendo mais de 600 mil assinaturas. Embora houvessem solicitado uma audiência com bastante antecedência, não foram recebidos pela Presidente. Conseguiram apenas entregar ao ministro substituto da Secretaria Geral da Presidência, Rogério Sottili, uma carta em que apontaram uma série de argumentos para justificar o posicionamento contrário à obra. O ministro prometeu mais uma vez o diálogo e considerou a carta"um relato que prezo, talvez um dos mais importantes da minha relação política no Governo (...) vou levar este relato, esta carta, este manifesto de vocês, os reclamos de vocês...". Até o momento, nenhuma resposta!
As quatro audiências - realizadas em Altamira, Brasil Novo, Vitória do Xingu e Belém - não passaram de mero formalismo para chancelar decisões já tomadas pelo Governo e cumprir um protocolo. A maioria da população ameaçada não conseguiu se fazer presente. Pessoas contrárias à obra que conseguiram chegar aos locais das audiências não tiveram oportunidade real de participação e manifestação, devido ao descabido aparato bélico montado pela Polícia.
Até o presente momento, os índios não foram ouvidos. As "oitivas" indígenas não aconteceram. Algumas reuniões foram realizadas com o objetivo de informar os índios sobre a Usina. Os indígenas que fizeram constar em ata sua posição contrária à UHE Belo Monte foram tranquilizados por funcionários da Funai que as "oitivas" seriam realizadas posteriormente. Para surpresa de todos nós, as atas das reuniões informativas foram publicadas pelo Governo de maneira fraudulenta em um documento intitulado "Oitivas Indígenas". Esse fato foi denunciado pelos indígenas que participaram das reuniões. Com base nestas denúncias, peticionamos à Procuradoria Geral da República investigação e tomada de providências cabíveis.
A tese defendida pelo Sr. Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), de que as aldeias indígenas não serão afetadas pela UHE Belo Monte, por não serem inundadas, é mera tentativa de confundir a opinião pública. Ocorrerá justamente o contrário: os habitantes, tanto nas aldeias como na margem do rio, ficarão praticamente sem água, em decorrência da redução do volume hídrico. Ora, esses povos vivem da pesca e da agricultura familiar e utilizam o rio para se locomover. Como chegarão a Altamira para fazer compras ou levar doentes, quando um paredão de 1.620 metros de comprimento e de 93 metros de altura for erguido diante deles?
Julgo fundamental esclarecer que não há nenhum estudo sobre o impacto que sofrerão os municípios à jusante, Senador José Porfírio e Porto de Moz, como também sobre a qualidade da água do reservatório a ser formado. Qual será o futuro de Altamira, com uma população atual de 105 mil habitantes, ao ser transformada numa península margeada por um lago podre e morto? Os atingidos pela barragem de Tucuruí tiveram que abandonar a região por causa de inúmeras pragas de mosquitos e doenças endêmicas. Mas os tecnocratas e políticos que vivem na capital federal, simplesmente menosprezam a possibilidade de que o mesmo venha a acontecer em Altamira.
Alertamos a sociedade nacional e internacional que Belo Monte está sendo alicerçada na ilegalidade e na negação de diálogo com as populações atingidas, correndo o risco de ser construída sob o império da força armada, a exemplo do que vem ocorrendo com a Transposição das águas do rio São Francisco, no nordeste do país. 
O Governo Federal, no caso da construção da UHE Belo Monte, será diretamente responsável pela desgraça que desabará sobre a região do Xingu e sobre toda a Amazônia. 
Por fim, declaramos que nenhuma “condicionante será capaz de justificar a UHE Belo Monte. Jamais aceitaremos esse projeto de morte. Continuaremos a apoiar a luta dos povos do Xingu contra a construção desse “monumento à insanidade”.

Brasília, 25 de março de 2011


Dom Erwin Kräutler
Bispo do Xingu e Presidente do
Cimi – Conselho Indigenista Missionário

quinta-feira, 17 de março de 2011

Álvaro Tukano descortina os problemas indígenas e a Funai

Mais uma vez a grande figura de Álvaro Tukano, memorando líder indígena do povo Tukano, do Alto Rio Negro, um dos primeiros indígenas a levantar a bandeira da crítica indígena ao sistema político brasileiro, bem como sobre a participação indígena na vida brasileira, vem a público lançar suas reflexões sobre  o momento atual.

Esse texto foi escrito a propósito de um debate com um patrício Tikuna e questões relativas ao comportamento de jovens indígenas naquela região. Daí o tom de "vamos tratar de coisas importantes..."

Com a palavra... Álvaro Tukano

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Vamos esquecer da parada...A nossa rede de comunicação não é para tratar de assuntos particulares, sem nexo. Temos que analisar, sim, o quadro caótico de Saúde Indígena que enfrentamos de Leste a Oeste, Norte a Sul; o abuso de poder  da PF que invade as casas de noite para prender as lideranças indígenas tradicionais quando defendem a demarcação de terra; o tráfico de drogas nas terras indígenas ou nas sedes municipais por onde os nossos são vítimas; dos líderes que são assassinados quase que diariamente e que deixam seus filhos órfãos, sem nada para comer, crescer e estudar; pela falta de escolas nas aldeias por onde os garotos estudam sentados por debaixo das árvores ou numas pequenas salas comunitárias; a falta de merenda escolar e transporte para os alunos. 


Os líderes das organizações indígenas que se encontram nas bases, sem comunicação, merecem o nosso respeito. Os dirigentes  das organizações e demais intelectuais que têm acesso à comunicação deveriam questionar os membros do CNPI que têm muito a ver com a Hidrelétrica de Belo Monte e outras negociações que acontecem para garantir os empreendimentos de grandes empresas construtoras, fora o avanço de monocultura e  estragos que acontecem em Terras Indígenas. 


Temos de questionar a presença da Força Nacional, inconstitucional, na sede da Funai, em Brasilia, DF, desde o mês de janeiro de 2010  até hoje. Temos que acompanhar os movimentos de centenas e centenas de lideranças indígenas contrárias à reestruturação da Funai -  Decreto Nº 7.056, de 26.12.2009. 


Os dirigentes da COIAB e outros lideres do Brasil, a meu modo de ver, têm que ter o comando político próprio e não estar no reboque do CNPI que esvazia as vozes de lideres importantes que conheçi nesses últimos trinta anos ou mais. 


Como está OIT/169? Em que o movimento indígena avançou? Bolsa Familia? Cotas Indígenas nas Universidades, e etc? 


Eu e outros companheiros que dirigimos o movimento indígena nas décadas de 1970 a 1992,  ainda vivemos e merecemos o respeito. Por exemplo, me lembro do Pedro Inácio, Pedro Mendes, Paulo Mendes, Nino e outros líderes importantes do Povo Tikuna. 


Vamos manter as tradiçoes: HOMEM É HOMEM e MULHER é MULHER!  Será que vocês sabem como está a direção da Funai em Brasilia; as Administrações Regionais e  Postos Indígenas? 


Indo mais longe: Até quando vamos ver as tristes notícias de Guarani/Kaiowá, MS, e outros que continuam enfrentando garimpeiros, madeiros e pistoleiros? 


Sim, temos que ser solidários com o cacique Raoni e outros  lideres contrários  à Hidrelétrica de Belo Monte; com dirigentes das ong´s sérias que estão ao lado do Raoni; dialogar com as novas lideranças para que continuam essa luta que não tem preço. 


Temos que ser solidários com funcionários da Funai que estão sendo perseguidos pelo atual presidente da Funai, segunda a descrição. 


Vejam a argumentação feita pelo Ministério da Justiça contra os servidores da Funai:


Senhor presidente, 1 - Como é de conhecimento de Vossa Senhoria, vêm ocorrendo várias manifestações com o intituito de pressionar o Poder Executivo a rever o Decreto nº 7.056, de 26.12.2009. 2 . O movimento denominado "Acampamento Revolucionário Indígena" além de representantes dos povos indígenas, conta com a participação de membros de sindicatos e outras organizações que apóiam o protesto contra o realinhamento da estrutura da FUNAI, e vem recebendo interferência direta de servidores dessa Fundação que, no horário de trabalho se deslocam para o citado acampamento na Esplanada, incitando a desordem, a ocupação de imóveis e agredindo autoridades, como no incidente ocorrido na última semana nas dependências do Senado Federal, relatado pelo Assessor Parlamentar deste Ministério. 3. Segundo informações colhidas, os servidores que estão atuando no acampamento são os seguintes: Ailton Farias da Silva; Guilhermo Carrano, Humberto Xavante; Jeremias Pinata´awe Psibobodawatre ( Xavante, vereador por Campinápolis/MT0; Roberto Cunha (servidor), Rogério Eustáquio de Oliveira e Wagner Salles Trann. 4 . Em face do exposto, e, considerando que tais condutas são incompatíveis com os deveres do servidor prescritos na Lei nº 8.112, de 1990, solicito a V. Sa. a adoção de providências, no sentido de determinar a instauração de procedimento disciplinar, objetivando a apuração dos fatos e a aplicação das sanções cabíveis aos faltosos.  Atenciosamente. RAFAEL THOMAZ FAVETTI -  Secretário-Executivo, JM. Memorando nº 260/SE. Em 11 de maio de 2010. Esse Ofício foi encaminhado ao Senhor MÁRCIO AUGUSTO FREITAS DE MEIRA, Pres. Funai. 


Enfim, sou testemunha como os Chefes Indígenas foram tratados nessa gestão. Eles ficaram deitados no chão do porão, no mesanino, no corredor e pegaram gripe e passaram as extremas necessidades. 


Uma pessoa morreu no porão da Funai. A nova equipe da Funai fazia conta que não via os meus irmãos. Foi muito triste...


No Acampamento, mais de 200 guerreiros foram retirados a força pela PF, Força Nacional, BOPE, PM e Cavalos. Mais de 1000 militares...O MJ mandou derrubar as árvores que davam a sombra aos nossos parentes.  


Pelo resto do Brasil, os índios enfrentaram a Força Nacional e outras milicias armadas, poderosas. Eis o problema centra. Portanto, meus parentes, o ÌNDIO está maltratado mesmo! Temos  que fazer a pressão política em cima de nossos Governadores, Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais e Distritais em quais VOTAMOS nas eleições passadas. 


Temos que chegar a Presidente da República para dizer todas essas atrocidades. Os dirigentes dos movimentos indígenas tem que processar a FUNAI e FUNASA, porque o negócio está. 


O que diria o Marechal Cândido Mariano Rondon se estivesse vivo a respeito da  presença das Ong´s na Funai, das manipulações e falsidades ideológicas, a presença de certos funcionários do órgão que nem gostam de índio. 


Agora mesmo para entrar é uma burocracia - só pode entrar com a autorização do Presidente da Funai, dos Diretores e funcionários que, as vezes, nem conhecem os problemas incríveis que enfrentamos nas bases. 


A Portaria da FUNAI  está vergonhosa! 


Álvaro Tukano.  

Affonso Romano de Santana, um poeta maior brasileiro

Este video abaixo é um poema-vídeo, feito de um poema do poeta Affonso Romano de Santana, falado e apresentado por ele mesmo.

Grande poema, grande poeta. Convidam-nos para pensar os tempos atuais do Brasil e do mundo. O mundo dominado pelos Estados Unidos, convolucionado, sofrido.

Penso em muitas coisas ouvindo e vendo esse poema. Obrigado poeta, por nos dar novas perspectivas para pensarmos a vida que nos é dado viver.

Vamos agir

quinta-feira, 3 de março de 2011

Movimento XINGU VIVO PARA SEMPRE pede satisfações ao ministro Gilberto Carvalho

O movimento XINGU VIVO PARA SEMPRE escreveu a carta abaixo ao ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, pedindo satisfações sobre as promessas feitas pelo seu secretário executivo, Rogério Sotilli, por ocasião de uma reunião que representantes do Movimento tiveram no dia 8 de fevereiro.

Essa carta foi publicada no site do CIMI, que esteve presente na reunião, inclusive através de um auxiliar do secretário Sotilli, Paulo Maldos, bastante conhecido no meio indigenista por fazer papel duplo de ser governo e parecer ser movimento social também.

A carta menciona que o movimento XINGU VIVO PARA SEMPRE não quer conversa com Funai e Ibama, não aceita suas explicações por serem mentirosas, e sim com a presidenta Dilma Rousseff.

Será que o ministro Gilberto Carvalho vai dar satisfações?

De todo modo, impressiona no video, feito por um índio que esteve na reunião, a voz patronizante e condescendente do secretário Sotilli e a abulia que domina a reunião, com os índios quase agradecendo o "privilégio" de estar aí. Será que não viram que era uma simples farsa?

Tudo isso contrasta claramente com a verdadeira vontade de mudar as coisas.



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03/03/2011 - 11:36 - Respostas ao povo do Xingu
Ao Excelentíssimo Ministro da Secretaria Geral da Presidência da República

Sr. Gilberto Carvalho

No dia 8 de fevereiro, nós, dez lideranças e caciques da Bacia do rio Xingu, fomos recebidos no Palácio do Planalto pelo secretário executivo da Secretaria Geral da Presidência, Rogério Sotilli, que nos garantiu estar representando, naquele momento, o Ministro Gilberto Carvalho e a Presidente Dilma Rousseff.

Em nome de centenas de indígenas e ribeirinhos que esperavam do lado de fora do Palácio, e de 604.317 cidadãos e cidadãs brasileiros e do mundo que declararam publicamente seu repúdio à hidrelétrica de Belo Monte, entregamos ao governo um documento com denúncias sobre as múltiplas ilegalidades do processo de licenciamento da usina e com as nossas propostas para uma nova política energética para o Brasil.

Na audiência, Sotilli afirmou textualmente: “Eu vou levar à presidenta Dilma o relato deste encontro com vocês, que eu prezo talvez como um dos mais importantes da minha relação política no governo, onde estou desde o início do governo Lula. Eu vou levar esta carta, este manifesto de vocês (...). O que eu posso adiantar para vocês é que a Secretaria Geral da Presidência da República tem essa permissão de dialogar com a sociedade civil. E isso nós vamos assumir: que a partir de hoje esse diálogo vai existir. (...) Então nós vamos fazer esse debate interno, nós vamos dar o retorno para vocês do que a gente pode construir a partir de agora, para fazer esse debate com uma participação muito maior, em cima daquilo que vocês esperam”.

Passados mais de 20 dias, apesar de repetidos contatos com a Secretaria Geral da Presidência, não recebemos nenhuma sinalização de que o governo pretende cumprir o compromisso de se manifestar sobre o documento recebido. Pelo contrario, durante a própria audiência e nos dias que se seguiram, recebemos pela imprensa notícias de que os Ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente reafirmaram os planos de breve início dos desmatamentos para as obras de Belo Monte e deram novas autorizações neste sentido. Também nos pareceu extremamente despropositado que duas autarquias, Funai e Ibama, se sentissem no direito de publicar “respostas” a um documento endereçado explicitamente à presidente Dilma Rouseff. Não é com eles que acordamos dialogar, e estamos cansados de ouvir as mentiras e distorções que vêm desses órgãos.

Neste sentido, na última sexta feira, dia 25 de fevereiro, a Justiça Federal, após uma análise minuciosa da Ação Civil Pública impetrada pelo Ministério Público Federal contra a licença de instalação parcial das obras de Belo Monte, concedeu liminar invalidando tal licenciamento.

Entendemos que esta decisão comprova mais uma vez que o projeto de Belo Monte tem avançado ao arrepio da lei. Reforçamos aqui nossa demanda, já apresentada na Carta à Dilma, que, diante dos novos desdobramentos jurídicos, o governo se abstenha de lançar mão, como fez anteriormente, do hediondo instrumento da Suspensão de Segurança. Demandamos que a AGU não interfira no caso, que a liminar não seja derrubada a toque de caixa, e que se faça respeitar os trâmites normais no julgamento do mérito.

Acima de tudo, acreditamos que o momento é mais que oportuno para o início de um processo realmente democrático de discussão sobre o planejamento energético do país. Assim, reforçamos nossa demanda de que haja uma paralisação no projeto de Belo Monte, e que o compromisso assumido conosco seja honrado, nos sendo encaminhadas as respostas aos questionamentos apresentados.

Esperamos sinceramente que até a próxima sexta, dia 4, sejamos contatados com as respostas prometidas.

Atenciosamente

Movimento Xingu Vivo para Sempre
Aliança dos Rios da Amazônia

Para conhecimento:
Gravação dos compromissos assumidos pelo governo com as populações do Xingu

quarta-feira, 2 de março de 2011

ANSEF manifesta REPÚDIO aos processos contra funcionários da FUNAI

A Associação Nacional dos Servidores da FUNAI -- ANSEF -- publicou em seu site uma Nota de Repúdio à direção da FUNAI por ter aberto seis processos administrativos disciplinares contra seis funcionários do órgão.

A Nota da ANSEF, inclusive, pondera que dois dos processados fazem parte de sua diretoria. Ora, deveria ter mencionado, com mais propriedade, que todos os seis são funcionários veteranos da FUNAI, com extensas folhas de serviços prestados ao órgão indigenista e aos povos indígenas que eles já serviram como chefes de postos indígenas ou chefes responsáveis por políticas indigenistas, e, ainda, que dois dos processados são indígenas, com lealdade ao seu próprio povo, o Xavante, além de lealdade ao órgão.

Embora a Nota seja firme, comparando o ato autoritário da atual direção do órgão ao tempo da ditadura militar, carece de maiores explicações e contextualização. Afinal de contas, toda a motivação para isso advém do famigerado Decreto 7506/09, que verdadeiramente desestruturou o órgão indigenista.

Nesse sentido, e pelo fato da Nota de Repúdio não ter sido feito pela convocação de todos os funcionários do quadro da FUNAI, em Brasília, dada a gravidade dos fatos, a referida Nota de Repúdio carece da necessária veemência para representar o espírito de indignação que acometeu os funcionários da FUNAI, em Brasília e pelo Brasil afora.

Esse Blog lamenta que nada mais tenha sido feito pela ANSEF e urge que os funcionários não deixem que essa gesto de autoritarismo da atual direção da FUNAI passe em brancas nuvens, não somente devido ao que os seis colegas irão sofrer, mas também devido ao caráter de gravidade administrativa e política que atinge o órgão.

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MOÇÃO DE REPÚDIO

         A Associação Nacional dos Servidores da FUNAI – ANSEF, em reunião no dia 28 de fevereiro de 2011, após tomar conhecimento do Processo Administrativo Disciplinar - PAD aberto contra dois membros de sua diretoria e outros quatro servidores, acusados de incitamento à desordem, ocupação de imóvel público e agressão a autoridade pública, durante o “Acampamento Indígena Revolucionário”, conforme documento emitido pelo Secretário Executivo do Ministério da Justiça, vem manifestar seu veemente REPÚDIO ao ato administrativo supracitado.

         A ANSEF acredita nos princípios democráticos, na luta dos povos indígenas e nos servidores que dedicam sua vida profissional à causa indígena.

         A ANSEF acredita que a abertura de um PAD, a fim de tolher a participação de servidores em qualquer forma de manifestação pública é um retrocesso social e político que remete a época da ditadura militar.

         A ANSEF apoiou o citado movimento, com uma doação singela de alimentos, haja vista a situação lastimável em que se encontravam os indígenas. Participou ainda de duas audiências públicas sobre a reestruturação da FUNAI, e certamente apoiará e se fará presente nos atos futuros de defesa aos servidores da FUNAI e demais manifestações que se mostrarem justas.

         Dessa forma, a Associação Nacional dos Servidores da FUNAI – ANSEF se solidariza aos servidores e se coloca à disposição dos mesmos no encaminhamento dessa questão.
 
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